terça-feira, 16 de maio de 2017

Bico calado

Imagem captada aqui.
  • «(…) A verdade é que, se o que se passa em Fátima é primeiro que tudo uma demonstração da fé, o mais importante do que lá se passa não é televisionável. É subjectivo, é individual, é íntimo, é uma conversa entre quem acredita e Deus ou Nossa Senhora, e essa conversa não é audível, nem captável pelos microfones. Todo o processo venal e venial de Fátima, o comércio religioso, as excursões, o turismo, o aproveitamento político pelos governos, laicos ou beatos, o uso de Fátima para o catolicismo ultramontano da nova direita “beta”, a captura pelas personalidades do jet set, que ostentam a sua ida a Fátima “com o povo”, mesmo até um vislumbre de eleições autárquicas em Ourém, tudo isto cabe no espectáculo, mas a fé, não. (…)» José Pacheco Pereira in Fátima de manhã, futebol à tarde e à noite, Público 14mai2017.
  • «(…) Trump é um autocrata, o que não é a mesma coisa que um ditador. Está a tentar moldar o sistema político americano para poder exercer o seu poder sem limites e esse é o caminho para a autocracia. A partir do seu centro de poder, a Casa Branca, e do conjunto de colaboradores escolhidos pela fidelidade absoluta e que mimetizam todas as características do homem que servem, acolitado por gente que parece normal, - coisa que Trump não parece, - mas que, exactamente por isso, é ainda mais perigosa, como o Vice-presidente Pence, governa por decretos presidenciais, as “ordens executivas”, prescinde do Congresso e do Senado. A temática dessas ordens presidenciais é em grande parte o programa eleitoral com que foi eleito e isso não seria, por si só, condenável. É um programa de direita radical, “soltando” os negócios de qualquer regulação, baixando os impostos para as empresas, revertendo toda a legislação ambiental, autorizando todos os grandes projectos que implicavam riscos ambientais, acentuando uma linha dura quanto à emigração e ao crime. Pode-se discordar desse programa e combatê-lo civicamente, mas o Presidente tem legitimidade para o aplicar. A questão é que, quando alguma coisa aparece no caminho dessas “ordens”, seja a Constituição, sejam decisões judiciais, sejam práticas estabelecidas no Congresso e no Senado para tentar obter maiorias bipartidárias, sejam pessoas em cargos na administração (no FBI, na CIA, no Departamento do Ambiente e da Justiça, nos governos estaduais, nos mayors das “cidades santuários”), seja o escrutínio na comunicação social, ele fica furioso e investe numa mistura de insultos, ameaças, demissões com cartas humilhantes acusando os demitidos de “traição”, de estarem ao serviço dos “democratas”, de fazerem parte do “pântano de Washington” ou de serem incompetentes. E depois seguem-se ameaças de mudar regras há muito estabelecidas, de acabar com os registos de quem o visita na Casa Branca, de acabar com os encontros com a comunicação social, substituindo-os por respostas por escrito, colar-se à Fox News e a todas as publicações radicais de direita que até agora não tinham estatuto de “órgãos de informação”, de favorecer a intervenção política das igrejas mais conservadoras com isenções de impostos, de acabar com regras bipartidárias no Congresso e no Senado, de politizar até ao extremo os lugares da administração, fazendo purgas e colocando marionetes nos lugares chave, empregar, com uma despudorada arrogância, a sua família na Casa Branca, usando as suas propriedades para conduzir negócios de estado e abrindo um precedente de não revelar os seus impostos ao mesmo tempo que vai propor legislação que o favorece pessoalmente. Todos os dias há uma ameaça, todos os dias há uma decisão associada a uma ameaça. E é essa exibição de motivos e de explicações é que é autocrática, porque sem grandes subtilezas revelam um homem disposto a tudo para impor a sua vontade, a começar pelas regras escritas e não-escritas da democracia. (…)» José Pacheco Pereira in A caminho da autocracia, Público 13mai2017.
  • Os EUA ultimam um negócio de 100 biliões de dólares de armas à Arábia Saudita e a Israel, divulga a MintPress News.

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