terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Bico calado


  • «Parece dupla de palhaços, mas não é, descansem. São jornalistas e foram engravatados, entrevistar o Sr. Presidente. Era a sua coroa de glória: Iam entrevistar o mestre dos baralhos, um sábio prestidigitador, o cenografista maior do reino, três estrelas Michelin em vichyssoises, nadador emérito, beijoqueiro empedernido, mais tudo o que à cabeça agora não me vem, mas Sr. Professor Doutor e Sr. Presidente da República, até agora isento e sem mácula. Tarefa árdua para qualquer um, que não para eles. Um, o Ricardinho, jornalista encadernado e experiente, mais timorato e prudente. O outro, o Bernardito, tendo Ferrão no nome, pensou ser uma serpente e, num assomo de sedução e enleio, como se na sua frente uma Cleópatra estivesse, tentou com veneno atingi-lo. (…) E a sua espertezazinha, diante de um inteligente, superinteligente, mais uma vez corrijo, calejado e avisado, instruído e informado, perspicaz e arguto oponente, transformou-se e transformou-o em coisinha…coitadinha. Até dava peninha… Ter-lhe-á passado, pela sua cabeça de periquito, enrascar o Marcelo? Deu-se mal, como seria óbvio para todos, menos para o Bernardinho, coitadinho…Que irá dizer, depois, ao seu “chefezinho”? Mas ele estava ali ao lado, caladinho, resguardadinho, e deixou-o queimar-se em fogo lento, lentinho, ouvindo o contrário do que queria ouvir, insistindo em perguntar o queria perguntar para o tentar enrascar, mas sendo repetidamente atropelado, mesmo que serenamente, por um inteligente, um superinteligente, reafirmo, que não apenas esperto. (…) Pois, mas…e a Dívida, Sr. Presidente? E os Juros, Sr. Presidente. Apanhámo-lo, devem ter pensado, assim como quem pergunta: este governo, que tanto apoia, resolveu? Deviam ter imaginado com quem se iriam meter. E o que lhes disse o Marcelo? Que queria um governo forte, mas também uma oposição forte. Eles não entenderam… Eu se fosse ao Marcelo, tinha era pegado num chinelo…» Joaquim Vassalo Abreu in O Bernardito e o Ricardito!À esquerda do zero.
  • Agências tributárias de 30 países reuniram-se em Paris (16-17 janeiro), na OCDE, para participar numa enorme troca simultânea de informações fiscais e partilhar resultados e pormenores sobre milhares de investigações desencadeadas pelos Panama Papers. «É fundamental combater os facilitadores para restaurar a confiança pública nos sistemas tributários e no Estado de direito», disse John Christensen, Presidente do Conselho de Administração da Rede de Justiça Fiscal. «Os facilitadores são tipicamente banqueiros profissionais, advogados e contabilistas, ou seja, elites privilegiadas que usam mal o seu status para minar os sistemas de regras e práticas que moldam as sociedades modernas. Em muitos casos, as diretrizes profissionais são fracas e inadequadas para a tarefa de impedir que os facilitadores ignorem a lei para promover seus próprios interesses e os dos seus clientes, e essa falta de integridade tem alimentado a desilusão pública na própria noção de integridade profissional », acrescentou. ICIJ. A propósito, um regresso à Suite 605. Exertos aqui.

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