Não é montagem: é a capa do i de 18 de março de 2016.
- «Depois da posse de Lula ser suspensa por um juiz, a decisão foi revertida por outro e agora reafirmada por um terceiro. Tudo no espaço de 24 horas, em que Lula já foi, deixou de ser, voltou a ser e deixou de ser de novo membro do governo. Como há 13 pedidos no Supremo e 50 no país, o Brasil poderá inaugurar o ministro pisca-pisca, que numas horas é e noutras não é. É feio ter estes pensamentos, mas sabe bem saber que há um sistema de justiça ainda mais surreal do que o nosso. Depois da corrupção e do risco de golpe, acho que o Brasil vai colapsar de vergonha.» Daniel Oliveira, in FB.
- «É a primeira vez que um orçamento é aprovado por uma maioria parlamentar de esquerda. É a primeira vez que três partidos votam a favor de um Orçamento de Estado. Só esses factos, inéditos, fazem com que hoje seja um dia histórico e nisso, sejam de esquerda, direita ou centro, todos têm de concordar. Mas a imprensa portuguesa não está de acordo. Fizemos o exercício agora mesmo e o resultado é este. A aprovação do Orçamento não merece o destaque de um único jornal português. Nem um. É uma verdadeira mordaça.» Os truques da imprensa portuguesa.
- «Tenho consciência da gravidade do que vou escrever, mas permitimos a alguns jornalistas o que só foi “permitido” à PIDE/DGS: vasculharem na correspondência, desrespeitarem todos os momentos de intimidade sem qualquer limite de pudor ou compaixão, tornarem públicas escutas policiais, relevantes ou irrelevantes para um processo. No caso do “Correio da Manhã”, a comparação com a PIDE é especialmente oportuna, já que os critérios de escolha das vítimas são eles próprios, por vezes, políticos. E basta ter lido uma lamentável entrevista de Otávio Ribeiro, em que este, para justificar porque é que não foi ouvida uma pessoa envolvida numa notícia, que lhe lançava gravíssimas acusações, explica que ela também tem os contactos do “Correio da Manhã”, para perceber como as regras deontológicas mais básicas são orgulhosamente ignoradas sem que se espere qualquer consequência. Desde que haja quem compre, sabe-se que não há quem puna. Dirão que a melhor forma de travar esta violação permanente dos mais elementares direitos civis é não ler o “Correio da Manhã” e não ver a CMTV. Lamento, mas não é assim que as coisas funcionam. A selvajaria tabloide é em tudo semelhante à selvajaria do sistema financeiro. É o mercado à solta sem obedecer a outra ética que não seja a mercantil. Dizer que basta não consumir o que agride os direitos de terceiros para a coisa desaparecer é acreditar que o mercado se regula a si mesmo. E isso não é verdade. Ou os jornalistas e empresas de comunicação social se organizam para se autorregularem, punindo exemplarmente quem viole os direitos dos cidadãos, ou terá de ser o Estado a proteger-nos, apertando muito mais os limites, com assustadores riscos de censura política. A alternativa é toda a comunicação social começar a chafurdar no lixo para sobreviver à concorrência no mercado do voyeurismo. Está a começar a acontecer. E se as coisas levarem esse rumo será difícil continuar a defender a liberdade de imprensa. Em nome dela nunca permitirei que filmem um velório de um filho meu. Em nome dela nunca aceitarei que um jornalista faça o que não permito a um polícia ou a um juiz. Porque a defesa da liberdade de imprensa não tem os jornalistas como sujeito. Tem, como sempre, todos os cidadãos. Se a liberdade de imprensa põe em risco todas as outras deixa de fazer sentido defendê-la.» Daniel Oliveira in Liberdade de imprensa e selvajaria tabloide - Expresso Diário, 17mar2016, via Estátua de Sal.
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