terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Bico calado

«A popularidade de que goza Marcelo Rebelo de Sousa entre um número significativo de portugueses, sabendo que esses portugueses são precisamente os mesmos que mantêm um ódio visceral por quase tudo o que está relacionado com o escândalo de corrupção do BES, daria um exemplo perfeito para ilustrar o conceito de dissonância cognitiva. Durante muitos anos, Marcelo privou com a família Espírito Santo e, particularmente, com Ricardo Salgado. Marcelo e Salgado eram - e ainda são - amigos, saíam e falavam regularmente, foram de férias juntos. Marcelo usou a influência de Salgado para assegurar a presença em várias plataformas da comunicação social, enquanto que Salgado usava a influência de Marcelo para lavar a sua imagem pública e valorizar os seus negócios. Dias antes do colapso do BES, Marcelo Rebelo de Sousa ainda defendia Salgado, induzindo milhares de lesados do BES num erro que lhes custou muito caro. Hoje, milhões de portugueses vêem Marcelo não como um político hipócrita e sem coluna dorsal, mas como uma figura pública moderada e apaziguadora. Numa época em que fama passou a ser confundida com mérito, a popularidade de Marcelo é, simultâneamente, compreensível e assustadora. Revela que os portugueses estão dispostos a desculpar um dos defensores do regime do tráfico de influências e corrupção, desde que ele desempenhe regularmente o papel conselheiro do país - mesmo que os seus conselhos tenham o vazio intelectual de um qualquer guru da auto-ajuda.
As diferenças no grau de exigência para um Presidente da República e para o vencedor de um reality show são cada vez mais ténues.» Uma Página Numa Rede Social.

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