quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Bico calado

  • «Só Mário Soares foi político no activo mais tempo que Cavaco Silva e, em democracia, ninguém teve tanto tempo o poder nas mãos. Cavaco é o político que disse tudo e o seu contrário e que, ainda assim, conseguiu a proeza de fazer com que não acontecesse nada do que disse ou defendeu. (...) A imagem do político que mais tempo exerceu o poder a entregá-lo cabisbaixo, arrisca-se a ser a imagem com que os portugueses recordarão o político Cavaco Silva. E não é só porque a memória é curta, é também porque a condução desta crise política revela que o seu mérito pode ter sido apenas o de estar no sítio certo à hora certa. Terá sido assim toda a sua vida política, mas ontem ele só não queria estar onde teve que estar.» Paulo Baldaia, TSF.
  • «Tolhido pelas limitações constitucionais do final do seu mandato, o chefe de Estado levou quase ao extremo a leitura dos seus poderes actuais. Cavaco Silva foi sempre cioso do seu exercício político, não gosta de partilhar protagonismos e detesta não ter a última palavra. Os últimos dois meses são reveladores a esse respeito e o arrastar da crise política evidencia o sabor amargo de quem se despede do cargo com a consciência de que não deixa propriamente um Portugal próspero e feliz. » Público 24nov2015.
  • «O percurso político de Cavaco explica por que lhe é tão difícil aceitar a democracia. Passos e Portas não seriam, idealmente, os seus interlocutores preferidos, é certo, mas é da sobrevivência do projeto da direita que falamos. O que interessa a este presidente da República não é a Constituição, ou a estabilidade do país, é a continuação de uma governação que não ponha em causa os interesses das elites que sempre protegeu e que sempre o protegeram; uma governação que não ponha em causa a estratégia da austeridade como um instrumento para eternização do seu sonho de direita: autoridade, compressão de direitos laborais, campo aberto aos negócios.» Mariana Mortágua in Cavacabou-se - JN 24nov2015.

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