sábado, 24 de outubro de 2015

Bico calado

  • «O que Cavaco disse equivaleu a lançar na clandestinidade (e certamente fora do governo) o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista e a forma como espumou na fase final da sua comunicação deixou-me convencido de que, se pudesse, tê-lo-ia feito. Por um momento pensei que poderia já ter mandado uma canhoneira bombardear a Soeiro Pereira Gomes e a Rua da Palma. Não é um bom sinal.» José Vitor Malheiros, A Cavacada, Público 22out2015.
  • «O que o PR fez foi dizer que uma parte importante dos portugueses não pode ter acesso ao poder político. Exclui partidos do livre jogo democrático. Ao fazer isso, só havia um passo seguinte a dar: ilegalizá-los, que no fundo é o conteúdo latente da intervenção do PR. Ou seja: esses partidos são menores, esses partidos não têm os mesmos direitos que os outros. Isso teve, obviamente, um efeito contraproducente para as intenções do PR. Tornou praticamente impossível que os deputados do PS não apoiem a posição da direcção, gerou uma enorme indignação no PS, no BE e no PCP que torna mais fácil qualquer entendimento.» Pacheco Pereira. A RR diz que foi entrevista mas JPP diz quase ipsis verbis isto mesmo na Quadratura do Círculo, transmitida pela SIC Notícias às 13h de 6ª feira, 23 de outubro. 
  • «Cavaco não presta, não vale nada, é incapaz de se desprender da direita dos interesses que apostou nele e financiou as suas campanhas para defender os seus interesses no Palácio de Belém. Para a história, Cavaco Silva não passará de uma nota de rodapé...» Alfredo Barroso 22out2015.
  • «A primeira consequência deste desnudamento é que facilitou a tarefa a António Costa, que só tinha obstáculos na procura de uma via de compromisso que é distinta de toda a cultura histórica do PS. Ninguém agora se pode atrever a ser o “cavaquista do PS”, pelo menos até a tempestade acalmar. Portanto, Cavaco Silva ajudou a polarizar o campo oposto ao do seu partido. A segunda consequência é que Cavaco Silva passa a ser um passivo para a direita, porque a emoção do presidente invocando a sua autoridade excluinte, não podendo ser banalizada, foi esgotada cedo demais. Cavaco Silva, como sempre, não soube ter a cabeça fria e aguardar pelas próximas jogadas da estratégia de tensão que convocou. Deixou que se lhe colasse de novo a imagem de mesquinhez e de facciosismo, que o torna um aliado incómodo de Passos Coelho e de Portas, eles que sabem que a guerra de nervos se perde com um grito. Finalmente, e essa é a consequência mais profunda, Cavaco Silva contribui para a crise do regime de que é a figura cimeira, porque o aprisiona entre o passado (aos problemas do país só tem a oferecer jogos partidários) e o protectorado (o campo da democracia é definido pela obediência a uma corrida para o abismo, que é a regra dos mercados financeiros). Ao fazer do regime político um mandarete de Berlim, Cavaco Silva mobiliza de uma só vez todos os recursos da ideologia obediente, da conformação satisfatória e do auto-reconhecimento das elites governantes em Portugal. Mas descola-as da vida das pessoas, porque as pensões ameaçadas, os empregos periclitantes, os filhos emigrados, as contas que se somam, a desconfiança popular perante a corrupção e o frenesim dos grandes negócios, nada disso lhe interessa. O palácio só sabe repetir que ignora as praças da república e, com isso, o passado morde o presente: o que tem a dizer aos plebeus é que comam brioches, se não têm pão. De resto, o discurso de Cavaco Silva é uma mistificação. Portugal não pode questionar os mercados, mas os mercados consideram que Portugal é lixo mesmo quando os juros de curto prazo são negativos. Portugal não pode questionar as novas regras que Berlim impõe na União, mas senta-se ao lado de um dos Estados europeus mais poderosos que está a organizar um referendo para sair da União. Portugal tem que aceitar regras orçamentais que foram aprovadas com o argumento então inédito de que são “estúpidas”. A ideologia, quando a ideia é fraca, torna-se raiva, como Cavaco Silva demonstrou ontem.» Francisco Louçã, Cavaco Silva e o passado a morder o presente, Público 23out2015.
  • «Há dias, António Vitorino, um político-painelista, isto é, com lugar cativo nos “painéis” televisivos, comentava na SIC Notícias a situação política pós-eleitoral, contracenando com um seu colega também painelista Pedro Santana Lopes. Riu muito, sem moderação, brincou com o facto de ter sido poupado aos últimos desenvolvimentos do folhetim político por ter estado uns dias no estrangeiro e — disse ironicamente — acabado de aterrar no estúdio ainda com jet lag. O que significam tanta galhofa, tanto informalismo, tanta displicência? Significam que este comentador está tão habituado àquele lugar e apropriou-se de tal modo dele que o ocupa como se estivesse em casa ou no café com os amigos. O chamado “comentário político” — na televisão, na rádio, nos jornais — tornou-se um lugar de convívio e de tertúlia, onde se encenam consensos e polémicas, acordos e beligerâncias. Um exército armado de painelistas e comentadores capturou a esfera pública e assegura a prossecução desta festa diária que em momentos críticos e de irrupção de algo novo, como é este que estamos a viver, se torna uma torrente de discursos que nos sufocam e sufocam tudo. Trata-se de um exército de elite que tem a seu cargo a acção de mortificar aquilo em que toca.» António Guerreiro, Comentaristas e politólogos, Público. Via O País do Burro.
  • Até mesmo tu, Saraiva da CIP? O presidente da CIP, António Saraiva, considerou que o Presidente da República usou no seu discurso um "tom crispado", que pode "prejudicar o ambiente político-partidário" e o "quadro de diálogo de estabilidade". JNegócios 23out2015.
  • A Justiça do Acre decidiu intimar pelo menos 133 blogueiros da capital acriana para que compareçam ao fórum da cidade para "regularizar" a sua situação. A decisão da Vara de Registros Públicos foi baseada em denúncia de um cartório, que alegou, usando uma lei de 1973, que esses blogs, sem o registro, poderiam ficar na clandestinidade. Via Evandro Ferreiro do Ambiente Acreano. Querem sacar dinheiro fácil ou impor a censura?

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