domingo, 22 de fevereiro de 2015

Bico calado

  • «O leitor lembra-se da primeira viagem que François Hollande fez após tomar posse? E qual foi a primeira viagem que Passos Coelho fez depois de tomar posse (embora antes já tivesse feito algumas para o mesmo destino)? Pois, foram as duas a Berlim para colocar a chanceler Angela Merkel a par dos seus planos. E ainda se lembram do ex-ministro português das Finanças, Vítor Gaspar, a pedir delicadamente ajuda ao seu homólogo alemão, Wolfgang Schauble, com este a dizer-lhe displicentemente que depois de haver resultados se veria? Pois, os gregos não fizeram nada disso e vieram lembrar-nos que a ordem natural das coisas na Europa é outra. O poder na União Europeia está hoje em Berlim. Melhor: está em Angela Merkel e Wolfgang Schauble e, depois deles, em todas as suas correias de transmissão, desde primeiros-ministros e governos submissos, a economistas, universitários, analistas e comentadores, cada qual mais fundamentalista que o anterior. Ora o primeiro-ministro e o ministro das Finanças gregos, Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis, fizeram algo tão simples como colocar no topo dos seus interlocutores europeus o Parlamento, a Comissão e os Estados membros sem discriminação. É algo tão natural que ninguém se devia surpreender. Mas como nos últimos anos os líderes fracos que governam a Europa (e o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que ocupou o cargo durante uma década) deixaram que o eixo do poder se movesse para a Alemanha sem qualquer oposição, a decisão grega surge quase como uma afronta à ordem estabelecida. Mas não. A ordem que existia até agora é que não é normal. A Europa foi construída como base na solidariedade e a igualdade entre os Estados membros e não como uma organização em que manda um e todos os outros obedecem. E por isso todos nós, europeus, temos de agradecer a Tsipras e a Varoufakis por estarem a devolver aos europeus o orgulho de pertencerem ao clube mais solidário e democrático do mundo.» Nicolau Santos in Esparta não se rendeu a Xerxes. E náo se renderá a BerlimExpresso 6fev2015.
  • «(...) Dizem as agências noticiosas, citando fontes do governo grego, que Portugal e Espanha foram os dois países que mais se opuseram à obtenção do acordo final. Triste fado, o nosso, termos um Primeiro-Ministro tão incapaz de ver que defender o acordo com a Grécia não seria defender só os interesses da Grécia, mas também defender os interesses de Portugal. É que, este acordo, é uma pequena porta que se abre para a flexibilização das medidas de austeridade que são impostas aos países intervencionados. E por bizarro que seja, é isso que Passos nunca quis, porque não é um patriota. Ele que sempre quis a dureza da austeridade e do empobrecimento para ter argumentos para a sua inépcia política e ausência de estratégia que estivesse para além da simples venda do país em saldos. Lamentável. Passos engoliu o primeiro sapo. Até Outubro, estimo que não terá barriga suficiente para engolir os que ainda estarão para vir.(...)» Estátua de Sal in Os defensores da austeridade tomaram o primeiro Kompensa.
  • Tensão entre Portugal e Grécia. Varoufakis invoca ‘boas maneiras’ para não falar sobre Maria Luís. JNegócios 20fev2015.
  • «(...) Esta sucessão de hipóteses mostra a volatilidade em que está mergulhada a vida política portuguesa, em si mesmo também um resultado dos anos de “ajustamento”, que tornaram amorfas as diferenças e uniformizaram a política por via da “inevitabilidade”, ou seja, impuseram os “mercados” e não os eleitores como julgadores das políticas e definiram fronteiras do que é “aceitável” ou não, fora do terreno da decisão democrática. Aquilo que se tem chamado a “ditadura dos mercados” é a forma moderna de fusão dos interesses económicos com a política, que já não permite a caricatura dos capitalistas de cartola, senhores do aço e das fábricas de altas chaminés, mas sim os impecáveis banqueiros e altos consultores vestidos depin stripes, assessorados por uma multidão de yuppies vindos das universidades certas com o seu MBA, que num qualquer gabinete do HBSC movem dinheiro das ilhas Caimão para contas numeradas na Suíça. (...)» Pacheco Pereira in Votalilidade, Público 21fev2015.

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