domingo, 15 de fevereiro de 2015

Bico calado

  • Mais uma carta à Grécia, por João Quadros in  JNegócios 13fev2015, via Entre as brumas da memória: «Gostava muito que nos perdoasse, pelo menos, metade das coisas horríveis que o nosso PM tem dito sobre si. Mas se acha que as declarações do nosso PM ofendem a sua pátria, lembre-se que ele usa um pin com a nossa bandeira. Como é que acha que nós nos sentimos?! Se ele não usasse o maldito pin, talvez passasse por PM da Baviera e não tínhamos de sofrer tanta vergonha. (...) Veja que, por exemplo, quando o nosso Presidente da República diz: "Muitos milhões de euros estão a ser tirados dos bolsos dos portugueses para a Grécia", e diz com os dentes todos para percebermos melhor a brutalidade da quantia – ‘miiiil e cem miiiil milhões’ -, é óbvio que é muito ofensivo para vocês. Mas acredite, Querida Grécia, é muito mais ofensivo para nós. Imagine o nosso sofrimento, que ouvimos isto, e tivemos de nos juntar para pagar umas seis vezes mais, com o banco feito por ex-colegas do nosso Presidente. E, Querida Grécia, nunca o vimos vir a público dizer – ‘saíram seis miiiiiil miiiiiilhões de euros do bolso dos portugueses para o BPN’. Ou: ‘Ganhei umas centenas de miiiiiiiiilhares de euros no BPN que acabaram por sair do bolso dos portugueses’. Por isso peço, Querida Grécia, que nos perdoe pelo menos 80% dos disparates que o nosso Presidente diz.» 
  • Que vergonha, que arrependimento, por Pedro Bidarra in Dinheiro Vivo 12fev2015: «O Presidente da República envergonhou-me durante a feira da maçaroca. Ouvi-o falar com sobranceria da Grécia e dos seus novos ministros e fiquei com vergonha. Apeteceu-me esconder o PR no quarto dos fundos, longe das visitas. Lembrei-me da Maximiliana, a personagem do Herman José no Tal Canal, que passava a vida a ser escondida pela filha para a poupar a embaraços. E não foi só vergonha, foi também arrependimento. Em 1996 fiz a campanha de Cavaco Silva para as presidenciais. Os meus esforços, e de outros, não impediram a derrota, era impossível naquele contexto, mas proporcionaram-lhe um resultado digno (46%) quando se esperava uma humilhação nas urnas. E para quê? Para isto? Na altura foi só um trabalho remunerado, profissional, como o de um médico que não se recusa a tratar um doente, mas, olhando para trás, quem me dera tê-lo deixado morrer politicamente, ou, pelo menos, não o ter ajudado a renascer. Estou muito arrependido. Não foi só o que ele disse - aquela dos portugueses estarem a pagar aos gregos foi repetida com fervor xenófobo em todos os fóruns radiofónicos do dia seguinte -, foi também a forma cínica e sobranceira como falou de um governo recém-eleito que tenta defender o seu interesse nacional, e que, até agora, não teve uma má palavra ou gesto para com Portugal - a única razão, a meu ver, que justificaria um comentário diplomaticamente desagradável. Ao contrário, já ouvimos e lemos muitas más palavras de políticos do Norte sobre o Sul, sem que o PR tenha feito qualquer observação. Ser forte com os fracos e fraco com os fortes é marca dos cobardes. Que vergonha me dá.»
  • Os piu-piu de Maçães, por Pacheco Pereira in Público 5abr2014: «Os tweets de um secretário de Estado chamado Bruno Maçães têm sido alvo de chacota generalizada na Internet, mas não é o seu contributo para o anedotário destes dias de lixo que é relevante. Eles significam muitas outras coisas, bem mais graves do que as inanidades que escreve: vão fundo ao pensamento débil de quem nos governa e mostram a perigosidade social de meia dúzia de ideias extremistas na mão de quem tem poder e que, sem mudarem nada, estragam o país por muitos anos. Que ele canta como um pássaro de curtos trinados, que é o que significa tweets, isso é verdade. Mas que dificilmente se pode encontrar melhor exemplo da gigantesca arrogância e presunção de um conjunto de conselheiros de Passos Coelho, em que tudo transpira a uma gigantesca auto-suficiência e assertividade, associada a uma profunda ignorância do que é Portugal, a sua história e as suas pessoas, o povo, nós todos, o único “nós” que tem sentido. Como todos os revolucionários são adâmicos, acham que o mundo começou com eles e vai acabar com eles, seja como paladinos de um combate mundial contra o Mal, quer como heróis consumidos num Armagedão de perversidade alheia, de preguiça colectiva, de pieguice generalizada, da maus costumes despesistas, de hábitos de vida de rico nuns miseráveis que acham que têm direitos e não sabem economia, ou seja, nas chamas do socialismo, da coligação do Papa Francisco com Obama, com Cavaco, com o Tribunal Constitucional, com os “socráticos” e com os ressabiados “velhos do Restelo” do PSD e CDS que só pensam nas suas pensões milionárias. (...) A metade de Passos Coelho que não foi feita por Relvas foi feita por homens como Maçães, combinando na mesma criação a esperteza aparelhística e o mundo das negociatas e das cunhas, com as altas esferas académicas sempre dispostas a fazerem de dr. Strangelove. Ou seja, o dr. sem ser dr., junto com o Professor Doutor. Infelizmente, a história tem muitos exemplos destes e dão sempre torto. Mas eles nunca querem saber de história.»
  • Afinal, Portugal não foi o país da zona euro que mais ajudou a Grécia: «Portugal está entre os países da zona euro que concederam até agora um menor volume de empréstimos à Grécia, quer em percentagem do PIB, quer levando em conta a dimensão da sua população. Isso acontece pelo facto de Portugal, a partir do momento em que lhe foi aplicado também um programa da troika, ter ficado dispensado dos custos associados à ajuda financeira à Grécia. Os números disponíveis parecem, assim, contrariar a ideia defendida por Pedro Passos Coelho esta quinta-feira de que Portugal é ‘de longe o país dentro da União Europeia que, em percentagem do seu produto, maior esforço fez de apoio e solidariedade em relação à Grécia’. (...) Portugal contribuiu sim, num montante próximo de 1100 milhões de euros com empréstimos bilaterais à Grécia, logo na fase inicial da crise, quando a falta de instituições próprias para os apoios financeiros de emergências, a zona euro optou por financiar a Grécia através de créditos concedidos por cada um dos países. As declarações do primeiro-ministro surgiram como resposta à carta subscrita por 32 personalidades que defendem ser ‘contraproducente’ a forma como o governo português tem gerido o debate europeu em relação à Grécia. ‘Tive a ocasião de ler a carta. Ela parte de um equívoco. Portugal é de longe o país dentro da União Europeia que, em percentagem do seu produto, maior esforço fez de apoio e solidariedade em relação à Grécia’, afirmou Passos Coelho.»
  • Gastos de 23 milhões em obras farónicas na residência privada do presidente da África do Sul  provocam desacatos no parlamento.

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