- 26dez2004: O tsunami foi apocalíptico para muitas comunidades no sudeste asiático. Para além das perdas materiais, muita gente perdeu os seus entes queridos. Não há palavras que cheguem para expressar a devida solidariedade para com tamanha tragédia.
- 27dez2005: A província indonésia de Aceh terá em breve mais barcos do que há um ano, antes do tsunami, e isso pode acabar com a pesca dessa região do norte da ilha de Sumatra, segundo organizações internacionais como a World Fish Center, a IFRC - Federação de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e a ECHO - Serviço Humanitário da Comunidade Europeia. Não só foram dados barcos a pessoas que não se dedicavam antes à pesca ou que eram apenas tripulantes, mas também o facto de empresas estrangeiras terem assumido o controle da indústria pesqueira nas águas da região, ricas em atum vermelho, espécie com grande procura internacional, criará excedentes e agravará a situação económica dos pescadores.
- 30dez2005: O tsunami de 26 de Dezembro matou 220.000 pessoas porque o desenvolvimento desenfreado ao longo da costa do Índico fez implantar complexos hoteleiros em zonas onde outrora os mangais reinavam e protegiam a costa da erosão e absorviam eficazmente a fúria dos elementos.
- 23set2006: Em Aceh, Indonésia, vítimas do Tsunami atacam escritório da reconstrução protestando contra a lentidão da atribuição de ajuda aos sem abrigo.
- 26dez2006: Em dois anos, nem metade do dinheiro dos donativos foi ainda aplicado ou investido na criação de melhores condições pra os desalojados pobres.
- "Era impossível gastar bem tanto dinheiro em tão pouco tempo." Para Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), não surge como surpresa nem escândalo que, dois anos após o tsunami que arrasou as zonas costeiras da Indonésia, Tailândia, Sri Lanka e Índia e matou pelo menos 230 mil pessoas, dos fundos reunidos numa nunca vista avalanche global de donativos - mais de cinco mil milhões de euros - só metade tenha sido aplicada". Texto continua aqui.
- 28dez2008: No Sri Lanka, o tsunami de 26 de Dezembro de 2004 matou cerca de 35 mil pessoas e deixou cerca de um milhão sem abrigo. Em média, 80% das vítimas eram pescadores que viviam ao longo da costa do país. Na costa leste, o tsunami fez o que os lóbis da indústria hoteleira não conseguiram fazer durante anos: limpar as praias das barracas onde viviam os pescadores. Depois do tsunami, e em nome da precaução e da segurança, os pescadores foram impedidos de se restabelecerem a menos de 200 metros da linha de água e foram deslocalizados para autênticos ghettos patrulhados por militares, deixando a costa livre para a hotelaria se (re)estabelecer à vontade, sem o limite da precaução e da segurança dos 200 metros. E, sublinhe-se, subsidiados por verbas angariadas através da solidariedade e a boa vontade internacinal. Não satisfeitos com esta manobra, o governo do Sri Lanka aumentou imediatamente o preço da água e dos combustíveis e aprovou legislação no sentido de privatizar a empresa de electricidade nacional. A terapia de choque foi tal que alguém considerou as profundas alterações introduzidas pelo governo como um segundo tsunami, quiçá mais desastroso. Qual golpe de estado, uma task force foi especialmente criada pela presidente do Sri Lanka, à margem do Parlamento mas sob a batuta de Washington e da Chicago School de Milton Friedman, para coordenar todo o processo de reconstrução. Dessa task force faziam parte metade dos testas de ferro da indústria do turismo, que tiveram todo o prazer em contratar a CH2M Hill, empresa americana com vasto currículo de reconstrução no Iraque. Este modelo foi trabalhado em toda a zona do Índico afectada por este tsunami, escreve Naomi Kkein em The Shock Doctrine, cuja leitura fornece substanciais pormenores acerca deste e de outros tipos de terapia de choque que tem norteado a política recente dos todo-poderosos deste mundo.
Recortes de notícias ambientais e outras que tais, com alguma crítica e reflexão. Sem publicidade e sem patrocínios públicos ou privados. Desde janeiro de 2004.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Reflexão – 10 anos depois do primeiro grande tsunami
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário