"O vício de ler também obriga a sofrer. Quem lê jornais e revistas fica apavorado com a perspectiva de morrermos todos se continuarmos a poluir o ar, a água e a terra. Automóveis, fogões de gás, fumos de fábrica, poluem o ar. Insecticidas e outros venenos poluem a terra e, por sua vez, todas as águas. Não haverá, dentro de poucos anos, se continuarmos a envenenar o mundo, lugar em que se viva. A Terra, como a Lua, girará pasmada, na sua órbita, como cão morto que quisesse morder o rabo. Imagine-se a tristeza dos anjos e dos bem-aventurados quando a virem passar tão morta como louca. À poluição do ar poderíamos opor, como contra-veneno, o oxigénio proveniente da vegetação. Mas, em vez de semelhante medida, recorremos a outra, que é uma rica vasilha com o fundo virado para cima. Com herbicidas, machado e serrote, destruímos a vegetação. Destruímos as fontes de oxigénio. Não nos passa pela cabeça oca a impossibilidade de vivermos sem ele. Pensamos até que não existe, porque ninguém o palpa. É, porventura, uma quimera de sábios.
Se assim é o homem do povo, se assim é o lavrador, e até o homem medíocre, dotado de instrução elementar, não deve ser assim o homem que governa. Esse, por amor ao oxigénio, benção de que não duvida, respeitará a árvore onde quer que exista. Se lhe faltar a sensibilidade precisa para se comover diante de uma árvore, suplique-a a Nosso Senhor nas suas orações.
Desapareça o tempo em que os governantes, nas cidades e vilas portuguesas, fizeram de cada árvore uma ré condenada ao patíbulo sem defesa. A olhos de poeta, não há canto de Portugal que não chore, como viúvo, a árvore que o embelezou." João de Araújo Correia in Pátria Pequena.
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