segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Reflexão - Eko Atlantic é um símbolo de apartheid climático

Eko Atlantic é um símbolo de apartheid climático, escreve Martin Lukacs no Guardian de 21 de janeiro

Resumo do Ambiente Ondas3:

Eko Atlantic vai ser uma cidade de 250 mil pessoas, com tudo do bom e do melhor que a civilização pode oferecer. Está a ser construída sobre uma ilha artificial ao largo de Lagos, na Nigéria. Tudo é e será privado. As suas relações públicas dizem que será sustentável, limpa e energeticamente eficiente, com um enorme enrocamento para evitar que a erosão, a subida do nível das águas do mar e as alterações climáticas deslocalizem milhares de pessoas como já aconteceu noutras zonas costeiras da Nigéria. Ao lado, Lagos afunda-se no desemprego, na economia paralela, em doenças, na falta de água e na dura luta pela sobrevivência onde cerca de 60% da população sobrevive com menos de um dólar por dia. O projeto de Eko Atlantic ancora-se no império financeiro do grupo Chagoury. Gilbert Chagoury foi conselheiro da ditadura nigeriana dos meados dos anos 1990s, tendo apoiado o general Sani Abacha no saque aos cofres públicos e na execução de centenas de manifestantes e de gente, como o ambientalista Ken Saro-Wiwa, que denunciava o saque levado a cabo pela Shell e outras petrolíferas. Eko Atlantic é, pois, o fruto do neoliberalismo, do saque da riqueza petrolífera de um país por parte de uma elite militar. E não será caso único. Preparem-se, porque as elites vão usar as alterações climáticas para transformar bairros, cidades, nações inteiras  em ilhas fortificadas. 
Há, felizmente, alternativas, como o projeto de requalificação do bairro de lata de Makoko, onde vivem 250 mil pessoas. Desenhado pelo arquiteto Kunle Adeyemi, feito com madeira barata e  impulsionado por bidões de plástico reciclados, inclui uma escola, paineis solares, telhados que capturam e guardam água e casas de banho secas. Makoko é um projeto para o povo, sem grades, com uma visão totalmente diferente do projeto de Eko Atlantic – partilha em vez de guardar e esconder, reduz a iniquidade em vez de aumentá-la, fomenta a resiliência de todos em vez de fugir do mal por parte de poucos, é um projeto que defende que as necessidades dos mais vulneráveis, e não os desejos dos mais ricos, devem ser o ponto de partida de qualquer esforço para combater a crise climática.

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