sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Contos proibidos (65)

“Quando ali cheguei já este se encontrava com Menano do Amaral. Tinha um cheque da Weidleplan em marcos emitido em seu nome e com obrigatoriedade de depósito, que pretendeu entregar-nos da parte de Richard Weidle. Menano do Amaral, responsável pelo administração financeira, recusou-se a recebê-lo alegando o facto de não vir emitido à Emaudio ou à FRI. Pedi então à directora administrativa que contactasse o banco, para saber o que fazer. O funcionário daquele banco, o Chase Manhattan em Lisboa, informaria que seria melhor ser Strecht Monteiro a depositar o cheque, já que vinha emitido em seu nome, podendo depois transferir aquela quantia para a conta da Emaudio. Strecht disse que ele próprio trataria do assunto e saiu disparado. Telefonaria mais tarde dizendo que tinha resolvido o assunto com o seu banco de Santa Maria da Feira, pedindo se o meu motorista o poderia ir
buscar ao aeroporto no dia seguinte. E assim aconteceria. No dia seguinte apresentar-se-ia na Rua da Palmeira com um saco donde retiraria massos de notas de cinco mil escudos, no total de cerca de cinquenta mil contos. Estariam presentes inicialmente João Tito de Morais e eu, chegando Menano do Amaral no momento em que eram contados os maços. Ao mesmo tempo que Strecht Monteiro partia com o seu saco, muito pouco tempo depois de ter chegado, seriam entregues numa pasta de cabedal
31 mil contos à directora administrativa que, juntamente com um cheque de quatro mil contos que Menano do Amaral trouxera consigo, os iria depositar na conta da Emaudio e transferir para a Portopress, a empresa editora da Face, do Notícias de Primeira Página, do Autosport e do Blitz(...)  Este episódio aconteceria numa altura de grande perturbação para mim e alguns dos seus contornos são um pouco nebulosos. Não porque, tanto quanto eu sei, a entrega daquela contribuição tivesse algo de invulgar — era exactamente igual a tantas outras que ocorreriam no âmbito do PS e das suas fundações, ao longo de inúmeros anos —, mas porque estava mais preocupado com a súbita doença de meu pai, que viria a falecer no dia 10 de Janeiro.”

Contos proibidos, por Rui Mateus – Publicações D. Quixote lda, 1996, pp 316-317

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