"No dia 7 de Maio seria chamado de urgência a São Bento. O primeiro-ministro estava em polvorosa. Dois dias depois chegaria a Portugal o presidente do EUA e o primeiro-ministro acabara de ter conhecimento de que o discurso que aquele dignitário iria fazer na Assembleia da República era altamente elogioso para o presidente Ramalho Eanes. «Não pode ser» — dir-me-ia Soares — «afinal contratámos aqueles gajos para nos ajudar e depois fazem uma gaffe destas». Para Soares, os elogios a Eanes, para além de desagradáveis por se tratar de Eanes, constituíam uma nota negativa nas suas aspirações presidenciais. Ele é que era o amigo dos americanos e ao ser ignorado pelo presidente dos Estados Unidos, em Portugal, representava uma não ingerência altamente favorável a Freitas do Amaral. Eu entraria imediatamente em contacto com Paul Manafort que compreendeu a «aflição» de Soares. Mas também viu aqui uma boa oportunidade de demonstrar a sua influência em Washington, entrando em contacto imediato com Bud Mac Farlane, o poderoso conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, e no dia seguinte receberia confirmação de que o discurso que o presidente dos Estados Unidos iria proferir perante a Assembleia da República, tinha sido convenientemente modificado. Reagan falaria da liberdade, de Winston Churchill, de Lincoln e dos pastorinhos de Fátima mas não mencionaria uma única vez o seu homólogo, Presidente da República general Ramalho Eanes. Pelo contrário, no almoço que o primeiro-ministro lhe ofereceria em Sintra, Reagan saudaria com grande entusiasmo a «coragem e liderança do primeiro-ministro»."
Contos proibidos, por Rui Mateus – Publicações D. Quixote lda, 1996, pp268
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