“Assim, numa das crises de enfant gaté que ocasionalmente o assaltavam, [Mário Soares] não queria que González discursasse no grande comício que teve lugar no Palácio de Cristal, no dia 13, encarregando-me a mim da desagradável tarefa de explicar a González que só um número restrito de oradores estava previsto. Um pequeno número que incluía só os «grandes» líderes. Tanto quanto me pude aperceber então, a ideia era a de excluir Zenha, cuja reputação nacional, popularidade e estatura moral lhe começavam a fazer sombra. E depois, quando já fosse tarde demais, seria eu responsabilizado, por ter sido eu a organizar a conferência... Ao fim de um ano de actividade dentro do PS, e sabendo como as culpas pelo desastre do primeiro Congresso tinham caído em cima do Tito de Morais, estava perfeitamente ambientado na política de «sacudir a água do capote» dos dirigentes socialistas. Por isso recusar-me-ia, informando, pelo contrário, Zenha da «deselegância» que o secretário-geral pretendia cometer. Zenha que melhor que ninguém o conhecia de ginjeira, alteraria a situação. Zenha seria um dos grandes oradores da noite e González discursou mesmo, sendo vibrantemente aplaudido.”
Contos proibidos, por Rui Mateus – Publicações D. Quixote lda, 1996, p110
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