sábado, 9 de fevereiro de 2013

Jardim, a grande fraude (10)

“Jardim a partir de certo momento deixa de ir às aulas. (...) Aparece no consultório de Agostinbo Cardoso, pede um atestado médico e vai à escola entregá-Io ao Sr. Nóbrega - o chefe de secretaria (...)  Atestado entregue, ordenado recebido e atestado renovado no dia de receber o ordenado do mês seguinte. ‘Este tempo que era para dar aulas está-me a dar um jeitão para montar o partido e para estar no Jornal da Madeira’, segreda ao Sr Nóbrega (...) A poucos dias do final do ano lectivo vai à Escola Industrial. Ninguém lhe boicota a entrada. Os seus alunos não estão para aulas, então resolve sumariar a matéria toda que ficou por dar e marca exames.  Durante algumas tardes seguidas, depois de tomar um café no Golden, vai à Escola e senta-se a fazer orais. Das duas e meia às quatro e meia são seis exames. Seis exames e seis chumbos. 'Mais uma vitória por seis-a-zero’, regozija-se o professor ao fim de cada sessão em que cansegue o pleno da vingança. ‘O senhor doutor não deu esta matéria’ protesta um aluno. ‘Desculpe, eu sumariei, você é que não apareceu cá’, ironiza Jardim. (...) Quem não tem problemas para passar de ano são os estudantes que apoiaram o professor nos dias mais difíceis, ‘se há essas legalidades revolucionárias todas, também é revolucionário passar estes alunos’, planeia Jardim a respeito de um grupo que vai integrar depois a JSD. ‘Penso que estou a formar uma grande geração de políticos ‘, comenta o líder social democrata com os companbeiros de partido: ‘Os jovens que serão políticos a meu favor e os que serão políticos contra mim, é uma boa fornada’”.
Jardim, a grande fraude, Ribeiro Cardoso – Caminho 2011, p75.

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