quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Camarate (19)

“Antes de entrar para a sala, o juiz, que Esteves descreve como sendo uma pessoa já com uma certa idade, veio ter consigo e perguntou se era a pessoa do caso da posse de armas. José Esteves confirmou e o juiz fez uma nova pergunta: ‘Pois é. Você ia a Coimbra para entregar as armas, não é? Tinha vindo de África e tinha armas, por isso ia a Coimbra. Não quisera fazer em Lisboa porque as coisas estavam mais complicadas, não foi?’ E José Esteves compreendeu. Sim, as armas eram suas. Sim, ia entregé-las, voluntariamente, em Coimbra. Sim, a situação estava tensa em Lisboa, por isso optara por ir a Coimbra. Sim, fora detido antes de ter tido oportunidade de as entregar. De fora do processo ficou o facto de ter apontado uma pistola a dois guardas da GNR e ainda de estar na posse de alguns quilos de explosivo. O juiz disse, por fim, que era mais útil à família fora da prisão do que dentro e, assim, no Verão de 1976, José Esteves foi posto em liberdade. Não iria poder continuar a trabalhar para o CDS, mas manteve-se activo naquilo que sabia fazer melhor, ou seja, na desestabilização social. A 11 de Outubro, o Diário de Lisboa publicou uma manchete de grande impacte: ‘Soares e Otelo visados pela “CODECO”’, lia-se nas letras gordas por debaixo de um antetitulo que anunciava ‘Um plano de liquidações físicas’. Hoje, José Esteves ri-se e afirma que essa era uma lista que chegou à PJ e esta, por sua vez, passou-a para a imprensa, ‘pois era assim que a CIA queria para dar a entender que Mário Soares também corria perigo’”.

Camarate, Sá Carneiro e as Armas para o Irão, por Frederico Duarte Carvalho, Planeta outubro 2012, p140

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