quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Camarate (13)

“No editorial que escreveu a 5 de Novembro e intitulado ‘Corre, corre Carlucci’, [José Saramago] registou: ‘Em Portugal, vejam la, é perfeitarnente possível ao embaixador dos Estados Unidos da América do Norte, sr Frank Carlucci, visitar de uma assentada, o governador civil do Porto, o comandante da Região Militar do Norte, o bispo de Vila Real, o governador civil deste distrito e o presidente da Câmara de Braga, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, etc. Frank Carlucci interessa-se, sem mal, pelo Norte português e anda, provavelmente, a apresentar cumprimentos. É o que pela certa nos virá a a ser dito, se alguém achar que alguma obrigação tem de dar explicações, seja o mesmo Carlucci, sejam os Negócios Estrangeiros, seja a Adminitração Interna, seja o Gabinete do primeiro-ministro. (...) A jurar nas suas palavras, o embaixador digna-se até confiar no governo português, o que vem a ser flagrante ingerência na nossa vida política: desde quando ousa um embaixador declarar que confia no governo junto do qual está acreditado? São os governos que declaram os embaixadores persona non grata ou estes que retiram a sua confiança aos governos? Que mais nos resta? Engolir a sem-cerimónia, a insolência, o desprezo? Ou informar o embaixador Carlucci de que a sua confiança não é prémio com que aceitemos ser distinguidos, e que é precisamente o povo português que não tem confiança no embaixador Carlucci?”

Camarate, Sá Carneiro e as Armas para o Irão, por Frederico Duarte Carvalho, Planeta outubro 2012, p116-117.

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