quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Arte de Furtar (16)

“É certo que se gasta neste Reino todos os anos das rendas reais quase um milhão, ou o que se acha na verdade em salários de oficiais e ministros que assistem ao governo da justiça e gestão das coisas pertencentes à Coroa. E é mais que certo que com a metade dos tais ministros, e pode bem ser que com a terça parte deles, se daria melhor expediente a tudo, porque nem sempre muitos alentam mais a empresa e se ela se pode efetuar com poucos  a multidão só serve de enleio. Se basta um Provedor em cada Provincia, para que são cinco ou seis? Se basta um Corregedor para vinte Iéguas de distrito, para que são tantos quantos vemos? Tantos escrivães, meirinhos e alcaides em cada Cidade, em cada Vila e Aldeia, de que servem, se basta um para escrevinhar e meirinhar este mundo e mais o outro? Este alvitre se deu ao rei de Castela não há muitos anos e não pegou, 
pode bem ser que por ser bom para nós.”

A Arte de Furtar, Tomé Pinheiro Da Veiga/Padre António Vieira, p343-344  – Oficina de Martinho Schagen, Amsterdão 1744

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