segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Reflexão

O lado negro da economia verde, por Jeff Conant in Yes Magazine.
Argumentos a reter (sumário/tradução da minha autoria)

(1) um pouco por todo o lado há projetos que prometem a proteção do planeta enquanto dizem combater a pobreza e desenvolver a economia; por exemplo, 19% das terras de Moçambique estão concessionadas a uma empresa de capitais britânicos que paga a sua reflorestação; 
(2) até há pouco tempo, “economia verde” era um conceito que dizia respeito a economias locais, amigas do ambiente e de baixos impactos ambientais, mas a partir de 2007 passou a significar a privatização da natureza; 
(3) a “economia verde” atribui preços aos ciclos naturais através de um conjunto de políticas controversas chamadas Pagamentos por Serviços de Ecossitemas, uma forma de esverdear o capitalismo que alguns comparam ao tigre querer tornar-se vegetariano; 
(4) patrocinada pelo Parograma das Nações Unidas para o Ambiente, pelo Ecosystem Marketplace e pelo Banco Mundial, a “economia verde” acaba por promover a monocultura da floresta, a especulação no negócio dos créditos de carbono, a criação de mercados especulativos de biodiversidade e florestas, enquanto expulsa os indígenas das suas terras; 
(5) as comunidades alvo deste tipo de projetos concluiram que esta “economia verde” acaba por colocar os “serviços” da natureza nas mesmas mãos dos que os pilharam; por exemplo, o plano de reflorestação de Moçambique coloca agricultores a plantar monoculturas industriais de palmeira para produzir óleo de palma para biocombustíveis; a “economia verde” anda de mão dada com o comércio de emissões, créditos comprados por corporações e governos que lhes permitem continuar a poluir em troca de serviços de ecossistemas fornecidos por terras e florestas do Sul, que funcionam como sumidouros de carbono, em vez de continuarem a ser considerados cestos de comida; 
(6) na recente cimeira Rio+20, nenhum defensor da “economia verde” pôs em questão a economia baseada na extração de combustíveis fósseis, os modelos de consumo e produção industrial; em vez disso, pretendem estender esse tipo de economia a novas zonas, alimentando o mito de que o crescimento económico pode ser infinito;  
(7) as atuais regras dos mercados mostram que os preços dependem da procura e da oferta, isto é, da escassez; se o petróleo escasseia, o seu preço sobe, e vai acontecer o mesmo com a “economia verde”; se atribuirmos um preço às florestas, à biodiversidade, a outros bens comuns, esses preços vão subir conforme a sua escassez, e isso interessa muito aos investidores porque quanto maior for a escassez dos serviços de ecossistemas mais valor terão; 
(8) em vez de estender o poder dos mercados à natureza, uma verdadeira economia verde significaria a inversão da sua mercantilização e financialização, a redução do papel dos mercados e do setor financeiro e o reforço do controlo democrático sobre os bens comuns ecológicos do mundo.

Sobre este tema, valerá a pena conferir estas referências no Ondas3.

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