terça-feira, 7 de setembro de 2004

Celebração das flores de papel ou caos de plástico? Segundo o Agroportal, que cita José Manuel Muacho, presidente da Associação das Festas do Povo de Campo Maior, o evento "ultrapassou largamente as expectativas" da organização, atingindo os cerca de dois milhões de visitantes. Por lá passaram o presidente da República Jorge Sampaio, o ministro da Agricultura, Carlos da Costa Neves e o secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, David Sousa Geraldes. A vice-presidente da Assembleia da República, Leonor Beleza, o antigo primeiro-ministro António Guterres, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, o candidato à liderança do PS José Sócrates, o deputado e dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã e o antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, foram outras personalidades que passaram pelas festas.
Eu também por lá passei. Anónimo. Apreciei imenso a arte de bem trabalhar o papel e criar flores mais uma vez demonstrada pela gente anónima de Campo Maior. Os meus sinceros parabéns. Todavia esta celebração do papel em flor parece estar a descambar para o caos do plástico. Por todo o lado havia garrafas de plástico vazias, muito especialmente nas valetas entre o centro da Vila e os caminhos até aos parques de estacionamento. A restauração usou e abusou do recurso ao copo, à chávena, ao prato plástico, tudo era servido em plástico por todo o lado, alguns alegando que havia clientes ladrões. Num café, até se gabavam de ter chávenas de café de porcelana para venda a 3 euros! Em tempo de guerra não se limpam armas - isto é, ao impingir o plástico arengando os mais bizarros argumentos, os espertos mais não fizeram do que deixar de lavar copos, chávenas e pratos. Não para poupar água - ela continua a jorrar em muitas fontes públicas, com honras de holofotes à noite -, mas para poupar tempo e braços. Lavar implica mão-de-obra, não é? Quando vi copos de vidro na prateleira e disse que preferia que a minha imperial fosse tirada num copo, aí o snack-bar ia caindo. Tive que aguentar com o patrão, o ajudante e a menina da chapa das bifanas. Em uníssono, o coro de sopranos chegou a berrar que estavam fartos daquelas festas. Presumi que o libreto da sua ópera dizia que a taxa mensal que pagavam pelos resíduos sólidos produzidos em tempo de desbunda era igual à dos vizinhos que tinham dedicado centenas de horas a criar lindíssimas flores de papel mas que não tinham produzido nem um milésimo do peso e do volume de lixo plástico promovido pelo trio.
Bem no meio da entrada da Vila há uma estátua a um comendador que dizem ter feito muito pela terra. Homem de grandes e largos horizontes, o dito comendador não terá tido tempo de subir a pé até ao cimo do castelo. Aí teria visto como se pode viver entre ameias. Mas esses que vivem nas ameias são anónimos. E, imaginem, até são capazes de criar lindíssimas flores de papel. Bem hajam.

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