sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Taxa de Recursos Hídricos: Figueira da Foz paga o dobro da Navigator pela água que consome


«As duas empresas de celulose localizadas no município da Figueira da Foz consomem, anualmente, mais de 38 mil milhões de litros de água do rio Mondego, pela qual pagam ao Estado quase 1,4 milhões de euros.
A maior consumidora de água com origem no domínio público hídrico do Mondego é a papeleira Navigator, que tem um consumo anual que ultrapassa os 28,3 milhões de metros cúbicos. A Celbi, do grupo Altri, recebe de água fornecida pelo canal adutor do Mondego cerca de 10,1 milhões de m3 de água (mais de 10 mil milhões de litros por ano), mas paga, por este nível de consumo quase três vezes inferior ao da Navigator, mais do que a sua congénere e vizinha da margem sul do Mondego.
Sobre o consumo no Mondego, a Navigator paga de taxa de recursos hídricos à Agência Portuguesa do Ambiente cerca de 679 mil euros e a Celbi quase mais 30 mil. 
Para além das duas celuloses, o sistema adutor do Mondego fornece ainda a central de ciclo combinado da EDP em Lares (que consome cerca de 83 mil m3 e paga 29 mil euros) e o abastecimento de água da Figueira da Foz, que dali retira anualmente 2,6 milhões de metros cúbicos (11 vezes menos do que a Navigator), pelo qual paga de Taxa de Recursos Hídricos cerca de 126 mil euros, o dobro do preço pago pela papeleira, considerando apenas e em proporção, o volume de água captada.» 

Reino Unido: «obscena lotaria de códigos fiscais» manipula atribuição de subsídios às vítimas das cheias em Yorkshire

  • O governo do Reino Unido está a ser processado por ter aprovado uma enorme central a gás, contrariando objeções da sua própria reguladora. The Guardian.
  • Em Yorkshire, Reino Unido, centenas de famílias vítimas de inundações não vão receber um penny dos milhares de libras de compensações propagandeadas por Boris Johnson por causa de uma «obscena loteria de códigos postais» aplicada pelo governo. O primeiro-ministro prometera subsídios de 500, 2.500 e 5000 libras, conforme os casos, às vítimas das inundações, depois de visitar Fishlake, em Yorkshire, novembro passado, na véspera das eleições gerais. Porém, muitos descobriram que o dinheiro está disponível apenas para as zonas visitadas por Johnson. Os vizinhos ficarão a «arder». The Guardian.
  • França enviou navios de guerra para o Mediterrâneo Oriental para apoiar a Grécia contra a exploração de gás natural por parte da Turquia na região. Em junho do ano passado, a Turquia colocou navios de perfuração em busca de gás natural em retaliação a um acordo entre a Grécia, o sul de Chipre e Israel, segundo o qual os três estados concordavam em construir um oleoduto para aproveitar as reservas de gás natural no sul do país. MEM.
  • O estado do Kansas não pode impedir as pessoas de realizar investigações secretas em complexos agropecuários, determinou um tribunal federal do Kansas, revogando uma lei de 1990. Vox.
  • Os painéis do muro da fronteira dos EUA, instalados há pouco tempo, caíram com ventos fortes na para o lado mexicano da fronteira, conta a CNN.

Memórias curtas

Bico calado

  • «Helder Bataglia, presidente da empresa ESCOM (vendida à SONANGOL), num negócio de 27 milhões - compra de submarinos aos alemães - desviou 21 milhões. Ou seja, cerca de 80%. A isto chama-se administração danosa, o que é crime. No entanto, até hoje a Justiça portuguesa nunca o acusou. O negócio em questão não era, aliás, um qualquer. Consistia na assessoria à empresa que vendeu submarinos a Portugal, a Ferrostal, em matéria das contrapartidas ao estado português. Estas seriam a compensação à economia nacional decorrente da venda deste material militar. Pois a assessoria terá sido tão boa que as contrapartidas ainda não apareceram. Dos 27 milhões facturados, Bataglia desviou 16 milhões para a administração e accionistas da Escom e mais cinco para os Espírito Santo. Prejudicou objectivamente a Escom que, com problemas financeiros insolúveis, acabou por ser vendida à SONANGOL. BATAGLIA afirmou ainda em tempos que os problemas da Escom resultaram de perdas com as explorações de diamantes em Angola. Conseguir ter prejuízos a vender diamantes é obra, o que só se consegue justificar por gestão danosa. Com sobranceria, Bataglia ainda se assume como precursor das relações económicas entre Angola e China. Mas oculta que o seu parceiro nesta aproximação à China, Sam Pa (entretanto preso na China), então presidente da China Sonangol, está na lista de alvos de sanções económicas dos EUA, por promover a corrupção no tráfico de diamantes. Uma peça importante para se perceber o LUANDA LEAKS (fase 2).» Paulo de Morais.
  • «Ainda ninguém ouviu de André Ventura ou de Francisco Rodrigues dos Santos uma única ideia sobre o Serviço Nacional de Saúde, a crise demográfica ou as alterações climáticas. Mas ao nível do insulto, das piadas e do discurso populista, a competição à direita promete ficar renhida.» Anselmo Crespo, DN.
  • Em março de 2019, um diretor da Uber Austrália afirmou que a Uber aceitou reformas anti-tributárias da OCDE para multinacionais e reconheceu que a empresa enfrentaria "impostos adicionais". O que ele não disse foi que a Uber estava a transferir ativos das Bermudas para a Holanda para criar uma dedução de impostos de 6,1 biliões de dólares. Marcus Reubenstein investigou para a Michael West Media.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Olivais: abate de árvores motiva queixa à Procuradora-Geral da república

  • A Plataforma em Defesa das Árvores  apresentou uma queixa formal à Procuradora-Geral da República por causa do bate de 27 árvores adultas de grande porte que decorre desde 22 de janeiro, no jardim Maria de Lurdes Sá Teixeira, na freguesia dos Olivais. Os ambientalistas alegam a que não lhes foram disponibilizados quaisquer relatórios fitossanitários determinando a necessidade do abate daquelas árvores, e o eventual plano para novas plantações de substituição.
  • A Terras de Guidintesta – Sociedade de Desenvolvimento Rural e a Associação de Produtores Florestais de Belver vão plantar entre 250 e 300 mil árvores indígenas (pinheiro manso, medronheiro, sobreiro) na zona devastada pelos incêndios de 2017. O projeto “Reflorestar Belver” conta com 85% do investimento total a fundo perdido, pelo PDR2020, uma iniciativa do Estado Português em conjunto com a União Europeia, para o desenvolvimento rural. A este acresceu o financiamento de 50 mil euros, conseguido em escassas 10 horas através de crowdfunding. Sapo24.
  • O presidente da Iberdrola, Ignacio Galán, anunciou o investimento de 200 milhões de euros em novos projetos eólicos na região do Alto Tâmega, que permitirão fornecer energia limpa aos 800 mil clientes em Portugal. Lusa.

The Guardian barra publicidade a combustíveis fósseis

  • O The Guardian vai deixar de aceitar e publicar publicidade de indústrias de combustíveis fósseis. Quem se segue?
  • Grupo francês investe dez milhões em aldeamento sustentável em Idanha-a-Nova, conta o Eco. Fantástico: tudo sustentável, tudo ecológico, tudo muito bio, «num território que é reserva natural e protegido pela UNESCO». Alguns dirão que este é já um projeto da nova vaga de descentralização do vale tudo dos vistos gold. 
  • As praias de Sanlucar de Barrameda foram atingidas por esgotos não tratados após as intensas chuvas que se abateram na zona nos últimos dias. Ecologistas en Acción.
  • Porque será que a Croácia avança com um projeto para transformar um importante destino turístico num imenso terminal de gás natural líquido? «Farei tudo para eliminar este projeto», afirma Mirela Ahmetovic, presidente da Câmara de Omisalj, na ilha de Krk. Rotulado de interesse estratégico, já recebeu verbas da União Europeia, muito provavelmente, - sugerem os adversários do projeto -, fruto do poderoso lóbi de petrolíferas como a Shell, a BP, a Total, a ExxonMobil e a Chevron que, desde 2010, gastaram 250 milhões em campanhas a favor de projetos semelhantes. Capaz de receber navios tanque de 280 metros, o terminal fica na baía de Rijeka, mesmo em frente das antigas ruínas da cidade romana de Fulfinum, património da UNESCO. O governo alega que se trata de garantir a independência energética do país, o que muitos observadores consideram um truque para fugir à dependência energética em relação à Rússia. Os opositores do projeto criticam a opacidade de todo um processo que avançou sem escrutínio ou consulta popular, dizem que o terminal não criará mais do que 40 postos de trabalho e duvidam da sua viabilidade económica. Para a realização do projeto foi criada a Adria LNG, um consórcio internacional de empresas de energia que inclui a alemã E.ON Ruhrgas, a francesa Total, a austríaca OMV, a checa-alemã RWE e a eslovena Geoplin. Balkan Insight.
  • A cidade de Saint-Louis, no Senegal, enfrenta uma ameaça de inundação que já viu vilas inteiras perdidas para o Atlântico. Por isso, está em estado de alerta permanente de inundação. The Guardian.
  • Centenas de trabalhadores da Amazon criticaram publicamente as políticas climáticas da empresa, desafiando abertamente a empresa após sofrerem ameaças de despedimento. ClimaInfo.
  • Uma plataforma de organizações ambientais exige respostas das petroquímicas depois de um estudo alemão ter descoberto que novas misturas de combustíveis navais projetados para reduzir as emissões de enxofre causadoras de chuvas ácidas aumentaram as emissões de carbono preto "super poluente", um dos principais fatores de alterações climáticas. RCI.
  • 'The Turning Point' explora a destruição do meio ambiente, as mudanças climáticas e a extinção de espécies sob uma perspectiva diferente. Música de Wantaways.
  • Fotos das piores pragas de gafanhotos que atingem o leste de África, na The Atlantic.

Bico calado

  • «Não foi isto que aconteceu. O deputado em questão disse, em resposta à proposta do Livre, o seguinte: "Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem". Isto não ataca a ideia: não há aqui qualquer argumento contra ou a favor da proposta apresentada. O que Ventura fez foi dizer "volta para a tua terra", fórmula paradigmática de uma xenofobia que nos dias de hoje vem passando cada vez mais por "debate político". O Público sabe bem que Ventura não atacou a ideia, mas a pessoa, e que o fez em termos inequivocamente xenófobos. Sabe-o porque o noticia nas suas páginas. Optou por não o noticiar na capa; pior, optou por branquear esse ataque básico e repulsivo à pessoa, fazendo-o passar por um mero ataque à ideia da deputada.» Os truques da imprensa portuguesa.
  • Ventura, o puro branco – Tubo de Ensaio/TSF.
  • «Paulo Portas é alto dirigente da Mota-Engil Internacional, empresa com imensos negócios e responsável por muitas obras públicas em Angola, hoje como nos últimas décadas. Com tantos interesses em Luanda, a opinião que emite na TVI sobre Angola e "Luanda leaks" é informada. Mas não é certamente nada independente! No mínimo, deveria (ele e a TVI) fazer a sua declaração de interesses. Porque os esconde?» Paulo de Morais.
  • «José Eduardo Martins é sócio da Sociedade ABREU Advogados, tendo responsabilidades no escritório (Desk) de Luanda. Com tantos interesses em Luanda, a sua opinião sobre Angola e "Luanda leaks" é informada. Mas não é certamente independente!!! Ao comentar o assunto, ficar-lhe-ia bem declarar o seu conflito de interesses.» Paulo de Morais.
  • «O advogado de defesa de Manuel Vicente, o ex-vice-presidente de Angola acusado por corrupção activa e branqueamento de capitais em Portugal, é Rui Patrício. Patrício conseguiu convencer o Estado português a deixar fugir os processo de Vicente para Angola, onde este tem imunidade total, por anos. Mas Rui Patrício foi também advogado de Bárbara Vara, filha de Armando Vara. Foi defensor de José Penedos, condenado por corrupção no caso Face Oculta, de Helder Bataglia e ainda do Benfica, no caso “E-Toupeira”, entre outros. Com tanta experiência a defender corruptos, Rui Patrício foi nomeado para o Conselho de Prevenção da Corrupção, que hoje representa ao mais alto (baixo) nível - Inacreditável! Mais: Patrício foi ainda nomeado pelo Governo administrador da Fundação de Arte de Joe Berardo, talvez por ser um "verdadeiro artista".» Paulo de Morais.
  • «No tempo em que trabalhei com Isabel dos Santos ela nunca me pediu nada de ilegal». Nuno Júdice à SIC.
  • Enquanto Trump revela o seu «acordo do século» - um acordo amplamente considerado como o tiro de partida para mais anexações ilegais - releia o ensaio de Adam Keller sobre a história da 'mediação' amarga e tendenciosa de décadas entre os EUA, Israel e o povo palestiniano, na The New Internationalist.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Montemor-o-Velho: Navigator executa e paga obra pública no Mondego


«A papeleira Navigator assumiu uma obra em curso de recuperação do canal condutor geral do rio Mondego, em Montemor-o-Velho, em domínio público hídrico do Estado, da responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente, que autorizou. Agricultores e proprietários agrícolas, entre outros, não contestam a realização, por privados, da intervenção no canal – alegando que há anos que as celuloses são, na prática, os responsáveis pela manutenção da infraestrutura, já que a água, em especial a que a Navigator dali recebe, é crucial para a sua produção de papel e pasta de papel – mas apontam a falta de transparência do processo e a alegada ausência de mecanismos de contratação pública. (…) O presidente da Câmara de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, afirmava que existiam na região duas obras de fecho provisório dos diques e uma terceira “feita pelas papeleiras” sobre a qual a autarquia “não foi informada”. Já Armindo Valente, vice-presidente da Associação de Beneficiários da Obra Hidroagrícola do Baixo Mondego, entidade responsável pelo regadio agrícola do Mondego (…) assumia que a obra “está a ser paga pelas indústrias para terem água”.
“Nós não contestamos a situação, até porque há uma boa relação entre os agricultores e a indústria. E se não forem as indústrias a pagar, com o Estado é um processo muito complicado para fazer o que quer que seja, porque tem de fazer contratação pública e as indústrias acabam por agilizar o processo”, argumentou.
Armindo Valente reconhece que, “na opinião pública, não se percebe como aquilo é feito, se [as indústrias] pagam menos taxas [de recursos hídricos] ou se há outra maneira de as ressarcir”.
Jorge Camarneiro, empresário e antigo vereador da CDU em Montemor-o-Velho, é taxativo quando refere que as celuloses “aparentemente sem contratos públicos, contratualizaram uma obra em propriedade pública e está mais do que claro que os procedimentos são mais ou menos lestos conforme os interesses das celuloses”.
“No dia das cheias, ainda estava tudo debaixo de água, com ameaça de roturas e de catástrofe e já as celuloses estavam a tratar de repor uma bomba [na estação do Foja] que não trabalhava há 20 anos. É legítimo, porque precisam de água, agora o que não é legítimo é que se oculte tudo isto, se faça tudo isto de uma forma meio secreta, quando se está a tratar de interesse público”, acusa o empresário de 60 anos, natural de Montemor-o-Velho.
Acresce que as intervenções feitas por privados em domínio público no Mondego já tinham sido alvo de reparo pelo Tribunal de Contas, em 2017, no âmbito de uma auditoria realizada aos Fundos Ambientais. Na sua análise, o TdC contestou uma candidatura da então Soporcel (hoje Navigator), realizada em abril de 2014, no valor de 2,5 milhões de euros ao Fundo de Proteção de Recursos Hídricos para “reabilitação de troços do canal condutor geral do Mondego”, após ter concluído, um mês antes, uma “reparação de emergência” com um custo de mais de 150 mil euros.
Na altura, o Tribunal de Contas argumentou que os trabalhos que a papeleira se propunha executar eram responsabilidade da APA, “respeitam a um canal situado no domínio público hídrico, que integra o Aproveitamento Hidráulico do Mondego e é propriedade do Estado”, e alegava não encontrar “motivos que justifiquem entregar a realização de uma obra pública a uma entidade privada quando esta é da competência de um instituto público”. (…) Sem divulgar o montante total da intervenção, a tutela reafirma que a reparação dos danos no canal, “de cujo funcionamento as unidades industriais de celulose são beneficiárias diretas, foi autorizada pela APA e será suportada pela Navigator”, devendo estar concluída em meados de fevereiro.» AgroPortal.

Oliveira do Hospital: biocombustível a partir de resíduos de podas

  • Um projeto de aproveitamento de resíduos das podas de vinhas e árvores de fruto na produção de biocombustível avançado está a ser desenvolvido no Campus de Tecnologia e Inovação da BLC3, em Oliveira do Hospital. O biocombustível é similar e equivalente ao gasóleo agrícola para usar nas próprias máquinas de exploração e de atividade agrícola. Lusa.
  • «O Ministério do Ambiente não pode fazer nada, no sentido em que o poder local é uma das principais conquistas de Abril e mal ia se interferisse numa decisão sobre a construção de um parque de estacionamento urbano». João Pedro Matos Fernandes, Ministro do Ambiente, sobre a construção do parque de estacionamento subterrâneo na zona do Rossio, em Aveiro. Diário de Aveiro.
  • Na segunda-feira, 27 de janeiro, a água da Veia Real, em Cochadas, Coimbra, corria muito poluída. O problema é antigo e já foi motivo de várias queixas e de promessas de resolução que parecem demorar a serem concretizadas. Por isso, Rogério Guímaro desabafa: «Convidamos o Sr ministro da poluição, o presidente da APA, da CCDRC, da ERSAR e o Sr Presidente da República, para um banho nestas águas límpidas e no final, uma SELFIE, pois este é verdadeiramente o espelho e fotografia dos nossos políticos!»
  • Clubes de futebol franceses usam cada vez mais transportes públicos e menos avião para reduzir a sua pegada de carbono. EurActiv.
  • Os outrora movimentados bairros de lata do litoral de Lagos, Nigéria, estão desertos. A Marinha «limpou» toda a zona nas últimas semanas para alegadamente acabar com o constante roubo de combustível dos oleodutos. Os mais informados sabem que se trata de uma vasta operação de gentrificação de toda a zona para lá construir edifícios. AFT/Oil Gas Daily.
  • Passada uma década, a operação ilegal da Rhode Island Recycled Metals (RIRM) insiste em expandir-se. Instalada em 2009 sem as devidas licenças, a RIRM só em 2015 é que foi alvo de ação do Estado numa tentativa de repor a legalidade. A zona onde está implantada em South Providence tem sido palco de desmantelamento de computadores, navios e veículos, atividades que contaminaram o solo e poluem o rio Providence. Apesar de tudo isto, a gerência conseguiu, há 4 anos, licença para desmantelar resíduos eletrónicos sem garantir as necessárias infraestruturas que evitem a fuga de substâncias contaminantes. Por isso, uma centena de ativistas manifestou-se contra o aumento do volume de resíduos a tratar uma vez que isso irá aumentar significativamente a circulação de camiões pesados junto de uma escola.
  • Cerca de 96.000 galões, o suficiente para encher mais de 500.000 garrafas de vinho, derramaram da Rodney Strong Vineyards para o rio Russian, na Califórnia. The Press Democrat.
  • O papa Francisco recordou a tragédia de Brumadinho, no Brasil, onde há um ano a rutura de uma barragem de mineração provocou 270 mortos, e apelou para a ajuda aos familiares das vítimas e a proteção do ambiente. Notícias ao minuto.
  • A Companhia Estadual de Águas e Esgoto e seus ex-diretores e gerente são acusados de responsabilidades na poluição, com o lançamento de esgoto não tratado em cinco estações de tratamento de esgoto, na Baía de Guanabara e no Oceano Atlântico desde 2015. EcoDebate.
  • Em Viena, quem usar transporte público, andar de bicicleta ou caminhar, pode, através de uma aplicação, ganhar ingressos gratuitos para espetáculos e museus. Space Daily.

Reflexão – Quais os perigos da tecnologia 5G?


O que é a tecnologia 5G e quais os seus perigos? 
por Hugo Gonçalves Silva, Professor Auxiliar no Departamento de Física da Universidade de Évora in Jornal Económico de 21jan2020.

«A tecnologia 5G usará emissão direccionada e, como consequência, teremos intensidades de radiação muito mais elevadas, efeitos de interferência enormes e uma resolução milimétrica de localização dos dispositivos móveis.
Existe extensa literatura a denunciar os variadíssimos perigos das telecomunicações móveis e é de estranhar que isto não seja do conhecimento dos centros tecnológicos que a estão a implementar e que, além disso, tal não seja transmitido à opinião pública. Neste contexto, o pedido de campanha informativa por parte do PAN Matosinhos é absolutamente legítimo e pretende-se aqui mostrar um pouco das implicações que as telecomunicações móveis têm para a saúde humana. Na certeza, porém, que ao ser um tema tão complexo, muito mais há para relatar.
Como forma de enquadramento na comunidade científica, cito três exemplos, entre muitos outros, de reconhecidos investigadores neste tema: Prof. Martin Pall, da Washington State University, Estados Unidos da América; Prof. Olle Johansson, do Karolinska Institute, Suécia; Drª. Erica Mallery-Blythe, do Physicians’ Health Initiative for Radiation and Environment, Reino Unido. Os leitores interessados podem encontrar facilmente trabalhos destes e outros investigadores, por exemplo, a Drª. Erica Mallery-Blythe tem uma série de apresentações disponíveis online.

Historicamente, em 1971 é publicado pelo Dr. Zorach R. Glaser, do Naval Medical Research Institute, Estados Unidos da América, uma das primeiras revisões da literatura sobre casos clínicos associados com a exposição à radiação electromagnética da mesma natureza daquela usada nas telecomunicações. Esta publicação tem quase 50 anos e já nessa altura analisava mais de dois mil estudos reportando os efeitos prejudiciais destas radiações no ser humano. Portanto, somando a estes toda a investigação feita até ao dia de hoje, dizer-se que não há provas científicas que mostrem as implicações na saúde pública é determinantemente errado.
De resto, a Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC) da Organização Mundial de Saúde classificou, em 2011, a radiação electromagnética de radiofrequência como possivelmente cancerígena para os seres humanos (grupo 2B), com base num aumento do risco de glioma, um tipo maligno de cancro no cérebro, associado ao uso de telemóveis.
Para melhor compreensão, é importante esclarecer que as telecomunicações móveis são transmitidas através da propagação de ondas electromagnéticas descritas pelas famosas equações de Maxwell. Estas ondas são caracterizadas pela sua frequência e comprimento de onda (relacionadas entre elas pela velocidade da luz). Em particular, as ondas electromagnéticas utilizadas na telecomunicação têm uma gama de frequências que é designada habitualmente por não-ionizante, por se considerar que não tem capacidade para ionizar átomos ou moléculas, e por esse motivo, a avaliação de risco deste tipo de radiação é feita quase exclusivamente pelo efeito térmico que produzem, o que é também errado.
Tal erro deriva do facto de os efeitos térmicos não serem normalmente significativos (cerca de um ou dois graus centígrados de aumento de temperatura, no caso do 5G serão bem mais elevados), ao passo que os efeitos de iteração electromagnética são enormemente significativos e a causa dos danos anteriormente listados.
Está reportado na literatura um processo designado por “canais de cálcio dependentes de voltagem” em que é promovido, pelos campos electromagnéticos incidentes, o stresse oxidativo das células ao permitir a entrada de agentes oxidantes através da membrana celular. Este processo disrompe o funcionamento das células e é segundo o Prof. Martin Pall, o responsável por vários dos danos causados pelas ondas electromagnéticas no ser humano e mencionados antes.
Esta situação levou o Prof. Olle Johansson a vaticinar a esterilidade irreversível dos humanos em cinco gerações (com base nas suas experiências levadas a cabo em ratos em laboratório). Um vaticínio destes não se faz de ânimo leve e sem provas científicas, pelo que merece a reflexão de todos, especialmente no modo radical como se pretende avançar agora. Adicionalmente, a Profª. Magda Havas reporta a aglomeração de glóbulos vermelhos no sangue como consequência da exposição à radiação de telemóveis
Isto tem enormes implicações para a saúde humana porque pode aumentar a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVC) e enfartes.
Também o Prof. Dariusz Leszczynski releva a disrupção da “barreira sangue-cérebro” (vazamento vascular) por incidência de radiação electromagnética. Esta barreira permite a entrada selectiva de glucose, água e aminoácidos, bloqueando a entrada de agentes tóxicos. Portanto, a sua disrupção, através dos chamados vazamentos vasculares, implica uma perturbação no funcionamento do cérebro humano e pode ter implicações no surgimento de doenças como a Alzheimer.
Continuando a aprofundar na literatura, podem-se encontrar variadíssimos efeitos mais
Neste sentido, existe um corpo de investigação robusto que suporta a existência de efeitos para a saúde pública das radiações electromagnéticas e, portanto, estes não podem continuar a ser ignorados para o bem dos utilizadores como da credibilidade dos promotores destas tecnologias. Estas afectar-nos-ão a todos!
Focando-me na tecnologia 5G, esta é, em particular, preocupante para a saúde pública por três factores.
Em primeiro lugar, vai utilizar, quando totalmente implementada, ondas milimétricas (na gama de frequências de 30 até 300 GHz). Estas têm sido usadas com objectivos militares, p.e. no controlo e dispersão de distúrbios (multidões), tendo, por isso, sido exaustivamente estudados os seus efeitos. No fim da década de 90, Pakhomov e co-autores fizeram uma revisão detalhada dos estudos relacionados com estas ondas, que foi complementada recentemente na quarta edição de “Handbook of Biological Effects of Electromagnetic Fields” (2019).
Entre os efeitos listam-se: aquecimento da pele com influência em toda a rede de nervos presentes na pele, aquecimento anormal dos olhos com lesões na córnea, alterações na expressão genética, efeito de ressonância nas glândulas sudoríparas com aumento elevado de temperatura, reacção hipoalérgica às ondas electromagnéticas, redução das sinapses neuronais, etc.. Os efeitos sobre a pele têm sido negligenciados, mas a pele é hoje tomada como parte do sistema imunitário, a interface entre o exterior e o interior, como refere a Profª. Devra Davis, renomada epidemiologista.
Em segundo lugar, devido aos comprimentos de onda serem mais curtos, para esta tecnologia funcionar têm de ser instaladas variadíssimas mini-antenas para garantirem rede, uma vez que têm menor capacidade de penetração nos edifícios. Por este motivo, têm sido abatidas árvores saudáveis em muitas cidades do mundo desde 2018. Além disso, uma vez que as antenas são significativamente mais pequenas, são facilmente disfarçadas no mobiliário urbano, podendo passar absolutamente despercebidas. E os equipamentos que medem frequências para lá dos 8-10 GHz não são acessíveis ao público.
Em terceiro lugar, a tecnologia 5G usará emissão direccionada (com o argumento de reduzir interferências), e, como consequência, teremos intensidades de radiação muito mais elevadas, efeitos de interferência enormes e uma resolução milimétrica de localização dos dispositivos móveis. Isto é muito diferente da tecnologia atual (3G e 4G) cujo padrão de emissão é aproximadamente isotrópico e o que nos deve levar a reflectir sobre um possível uso subversivo desta tecnologia.
Há que diferenciar o sistema 5G, do 5G que se refere às ondas milimétricas. O sistema 5G começará por assentar em antenas 4G (700MHz) com a capacidade sem precedentes de MIMO e feixes de raios dirigíveis, capazes de focar mais energia à distância.
Se considerarmos que com a tecnologia atual (3G e 4G) estamos expostos a níveis de radiação electromagnética milhares de vezes acima dos recomentáveis pelo “Building Biology Evaluation Guidelines”, com a tecnologia 5G ficaríamos expostos a níveis milhões de vezes acima do tolerável.
Será que vale a pena corrermos tantos riscos para termos downloads mais rápidos?
Finalmente, listo a nível internacional duas iniciativas de relevo nesta matéria onde pode ser encontrada muita informação: EMFscientist.org e EM Radiation Research Trust e a nível nacional, Movimento Português de Prevenção do Electrosmog e a respectiva petição.»

Bico calado

  • «O Rui Pinto devia estar a dirigir investigações na Polícia Judiciária e, provavelmente, a ser condecorado no 10 de junho e nós tratamo-lo como um criminoso. (…) Eu tive dois exemplos na minha vida enquanto jornalista em que usei, para reportagens de trabalhos meus, material que eu sabia que tinha sido sonegado através de violação de correspondência que era privada e que me foi entregue. Num deles tratava-se de um contrato entre o Estado e uma empresa pública, que violava o interesse público e o outro, graças aos documentos ilícitos que me deram, consegui deitar por terra uma urbanização que ia ser feita na costa alentejana à custa de corrupção autarca. E eu ponderei se tinha o direito de o fazer e tinha porque o interesse público era superior ao resto». Miguel Sousa Tavares, in TVI, Jornal das 8 de 27jan2020. Via Notícias ao minuto.
  • O PS vai acabar com o investimento em imobiliário dos vistos gold em Lisboa e no Porto, limitando-o às Comunidades Intermunicipais do Interior e às regiões autónomas. Jornal de Negócios. Ana Gomes reage: trata-se de descentralizar a criminalidade acarinhada a coberto dos vistos gold.
  • Uma greve paralizou a Co-op Refinery Complex em Regina, Saskatchewan, Canadá. Os trabalhadores lutam contra os planos de reestruturação das suas pensões. A empresa contratou fura-greves. Os grevistas reforçaram os piquetes e bloquearam estradas. A polícia deteve alguns e o sindicato foi multado em 100 mil dólares, o que estimulou o apoio de outros sindicatos, noeadamente dos EUA, forçando o restabelecimento das negociações. Jacobin.
  • Fontes da secreta russa alegam que Michael D'Andrea, chefe das operações da CIA no Irão e que orquestrou o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, foi morto num avião espião dos EUA abatido ontem em Ghazni, Afeganistão. MEM.
  • Ian Henderson, ex-investigador principal da Organização para a Proibição de Armas Químicas testemunhou na ONU garantindo que não existem evidências científicas para apoiar as alegações de que um ataque de gás químico ocorreu em Douma, na Síria, em abril de 2018. The Grayzone
  • Uma investigação do Center for Public Integrity e da Vox  sobre os efeitos da Lei dos Cortes de Impostos e Empregos de 2017 nos EUA constatou que, embora a lei não tenha proporcionado o aumento prometido em salários ou investimentos empresariais, ela engordou os bolsos dos legisladores republicanos que usaram a medida no Congresso, apesar da oposição pública generalizada. Via Common Dreams.
  • A empresa de consultoria de petróleo e gás Unaoil pagou cerca de 6 milhões de dólares de suborno para obter negócios no Iraque no valor de 800 milhões, entre 2005 e 2011. MEM.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Lisboa: pouco rigor na identificação de vespa asiática detetada no Jardim Botânico


Uma vespa velutina poisou no joelho de um visitante que, de imediato, reportou ao segurança, que a capturou num recipiente e a levou para análise

No dia seguinte, um entomólogo da Universidade de Lisboa agradeceu-lhe o reporte, garantindo tratar-se de uma vespa Crabro, europeia. Só que, rigorosamente, a vespa era, de facto, Velutina, asiática.

Este deslize de um especialista foi motivo de alguma polémica e chacota por parte de seguidores do visitante e de membros de um grupo. Uma cibernauta não esteve com papas na língua: «Patas amarelas é crabro??? Cauda preta só com um risco amarelo é crabro? Deveria ser picado por uma só para ver a diferença» 
E simplificou as coisas: corpo quase todo preto e patas amarelas é asiática; corpo quase todo amarelo e patas vermelhas é Crabro.

O visitante diz ter tentado postar sobre o assunto na página da Câmara de Lisboa, mas terá sido barrado. Alguns seguidores ponderam a hipótese de o encobrimento desta ocorrência poderá estar relacionado com a preservação da boa imagem de um Jardim Botânico acabado de reabrir na atual capital europeia do Ambiente.

França: autarquias e ONGs processam petrolífera

  • Uma plataforma de 14 autoridades locais francesas e várias ONGs avançam com processos judiciais contra a petrolífera francesa Total para tentar forçar a empresa a reduzir drasticamente as suas emissões de gases de efeito estufa. The Guardian.
  • A educação através de hortas urbanas em escolas ou noutros espaços ajuda a conscienlização ecológica, escreve Estefanía Grijota no El País.
  • O rallye Monte-Carlo é uma prova automobilística absurda numa época de crise climática, e, por isso, não deveria existir, defendem os ambientalistas dos Hautes-Alpes, distgrito da Côte d'Azur. Por isso, realizaram vários protestos. Reporterre.
  • Em South Bruce, a noroeste de Toronto, proprietários de terrenos assinaram um acordo que permitirá as autoridades avançar com testes no local com vista à instalação de um cemitério nuclear. Para além de Ignace, esta poderá ser uma alternativa para armazenar resíduos nucleares de alto nível. Atualmente, cerca de três milhões de contentores de resíduos altamente radioativos estão armazenados nas estações de geração nuclear existentes no Canadá, inclusive na Estação de Geração Nuclear Bruce, nas margens do Lago Huron, perto de Kincardine, Ontário. 660 City News.

Reflexão – plantar um bilião de árvores não vai travar a crise climática


Plantar um bilião de árvores não vai travar a crise climática, por Victor Resco de Dios, in

Plantar um bilião de árvores é bárbaro. Equivale a um terço do total da Terra. A ideia por trás disso é simples e errada: assume que a Terra deve ser povoada por florestas e que pastagens e savanas são o resultado da degradação e do desmatamento induzido pelo homem.
Essa teoria esquece, por exemplo, que esses ecossistemas apareceram há 8 milhões de anos,  muito antes da nossa chegada. A nossa espécie pode evoluir precisamente graças à existência de savanas.
Os proponentes deste plano também argumentam que é uma solução natural para o problema das mudanças climáticas. É como dizer que os problemas de saúde de uma pessoa sedentária, que bebe e fuma sem parar e consome apenas comida rápida, serão resolvidos se ela começar a comer várias maçãs por dia: não é suficiente, nem de longe.
Refira-se que a crise climática é o resultado da libertação de carbono na atmosfera na forma de CO₂, que foi armazenado durante milhões de anos pelos restos fósseis de triliões de organismos. Por mais árvores que cultivemos, não seremos capazes de neutralizar essas emissões de CO2.
Plantar um bilião de árvores é contraproducente na luta contra a crise climática por vários motivos:
1 Porque são precisos anos, até mesmo décadas até uma floresta funcionar como sumidouro de CO₂. O dióxido de carbono é libertado durante o plantio e as taxas de fotossíntese são baixas em árvores jovens. As mudanças climáticas exigem ações imediatas.
2 Porque as árvores se queimam e as plantações são particularmente vulneráveis a incêndios. A experiência ensinou-nos que as plantações são abandonadas logo depois de feitas. Os custos de manutenção de uma plantação são altos: é necessário usar técnicas de engenharia florestal e outras para alcançar um bom estado de saúde na massa florestal. Mas isso geralmente não é feito porque é caro. Isso implica grandes acúmulos de combustível e pode levar a incêndios particularmente perigosos, como vimos nos mega-incêndios do Chile em 2017.
3 Porque, por vezes, as pastagens armazenam mais CO₂ do que as florestas que se pretende plantar. Além disso, alterar o tipo de vegetação altera o balanço energético. Isso, em alguns casos, pode provocar um maior aquecimento.
4 Porque o mito de que a plantação de árvores corrige as mudanças climáticas não é só falsa, mas também perigosa. Cria a ilusão de que podemos continuar a emitir como de costume e as árvores absorverão o carbono. Será talvez por esse motivo que as potências mundiais apoiam essa medida. Mas, na realidade, nada mais é do que uma operação de maquilhagem. Maquilhagem tóxica.
É curioso ver como, às vezes, o ser humano retrocede em vez de seguir em frente. Fiz a minha tese de doutoramento há cerca de 15 anos no deserto de Sonora, motivado precisamente pelos efeitos negativos das árvores em pastagens subtropicais.
Naquela época, havia um consenso a nível científico sobre os benefícios de manter esses ecossistemas sem árvores. O debate atual sobre os triliões de árvores parece ignorar grande parte da ciência ecológica e florestal dos últimos 50 anos.
É claro que, em muitos ecossistemas, será necessário e desejável plantar. O reflorestamento nada mais é do que uma técnica de engenharia usada para restaurar ecossistemas degradados.
O reflorestamento é indicado, por exemplo, para os ecossistemas que sofreram perdas significativas de biodiversidade, erosão e outros danos causados pela ação recente do homem.
Mas, com o reflorestamento, é criado um ecossistema “Frankenstein”: é como uma operação cirúrgica que combina uma peça daqui e outra dali e que, além disso, tem um período pós-operatório de décadas.
Os estudos indicam que a biodiversidade em repovoamentos só atinge níveis comparáveis aos das florestas naturais passadas várias décadas ou séculos.
Seria mais sensato canalizar recursos de novos programas de criação de florestas para conservar os existentes, travar o desmatamento tropical e desenvolver medidas que incentivem a cessação de emissões.
Via Climatica.


Bico calado

  • O bairro da Areia Branca, na altura habitado por 3 mil famílias que viviam da pesca, foi arrasado em 2013 para dar lugar a um enorme empreendimento que incluía uma autoestrada e um hotel de luxo, envolvendo duas das empresas (Urbinveste e Landscape) de Isabel dos Santos, agora acusada de defraudar o erário público de Angola em largos milhões de dólares. O contrato de concessão dos terrenos da marginal foi anulado pelo atual Governo de João Lourenço e as empresas de Isabel dos Santos foram arrestadas. Mas os desalojados da Areia Branca, mais de 500 famílias, continuam a viver no bairro do Povoado, em barracas, sem água ou luz, numa pobreza extrema, junto de uma vala sujeita a inundações e vítima de frequentes problemas de saúde como tifoide e diarreias. Fontes: ICIJ e SIC Notícias.
  • O Ducado da Cornualha parece funcionar como uma empresa, mas não paga impostos. Em vez disso, fica numa espécie de limbo legal, usando o seu status real para contornar os impostos sobre as empresas e os juros de capital, mesmo argumentando que, como propriedade privada, não tem obrigação de prestar contas. Benjamin Mueller, in NYTimes.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Abrantes: rio Tejo corre cheio de espuma

  • Espuma cobre o rio Tejo em Abrantes, denuncia Arlindo Marques. O dirigente da proTEJO apela à intervenção do Presidente e pondera novas ações de protesto. Via RR.
  • Dezenas de camiões começaram a despejar centenas de milhares de toneladas de areia em Miami Beach, como parte das medidas do governo dos EUA para proteger os destinos turísticos da Flórida contra os impactos da crise climática. O custo da operação está calculado em 16 milhões de dólares. Terra Daily.

Reflexão - urina humana reciclada e maturada é uma alternativa segura aos fertilizantes comercializados


A urina humana reciclada e maturada é uma alternativa segura aos fertilizantes tradicionais, conclui uma investigação recente da Universidade de Michigan, coordenada por Heather Goetsch. 
«A urina contém compostos que incluem nitrogénio, fósforo e potássio, compostos que se encontram nos fertilizantes, diz Heather Goetsch. Os testes mostraram que a urina maturada em recipientes fechados por vários meses desativou 99% dos genes resistentes a antibióticos nas bactérias. As bactérias na urina maturada e reciclada não podem transferir as capacidades de resistência a antibióticos para as bactérias no solo, tornando-as potencialmente utilizáveis.


Memórias curtas

Bico calado

  • «Salgado esconde 138 obras de arte em armazém. Joana Amaral Dias: 30 mil milhões de euros depois, em Portugal não há um único banqueiro preso.» CM.
  • «O Banco de Portugal não contestou a idoneidade de Ricardo Salgado no BES, em 2014. Nem pôs em causa a idoneidade de Isabel dos Santos e Teixeira dos Santos, no Eurobic em 2020. Nem tão pouco da Sonangol, segundo maior accionista do BCP, em 2020. Os critérios do Governador são de banda larga. Um Governador demasiado distraído.. mas mantém o lugar, se calhar por isso mesmo. Afinal um salário de 16926.82 Euros (por mês) parece justificar qualquer distração. No BdP, ninguém larga a cadeira.» Paulo de Morais.
  • «(…) Ver Davos desconvidá-la, depois de se ter feito pagar bem pelo convite que lhe havia feito para intervir na qualidade de grande empresária internacional, mostra bem o estofo moral da elite do mundo. Ver o seu próprio banco, cúmplice nos seus desvios de fundos de dinheiro de Angola para o seu bolso, vir agora “cortar relações comerciais” com as suas empresas, continuando todos sentadinhos nos seus lugares lá no banco, prova que há gente que nem de si própria tem vergonha. Mas é a gente dela, é o mundo dela, são os valores dela. São os guardiões do mais desprezível dos bezerros de ouro: o dinheiro sujo que todos eles sempre souberem ser o dela. Dinheiro roubado a angolanos que morreram por falta de medicamentos nos hospitais, que morreram de fome num país com condições para alimentar de sobra toda a sua gente, que viveram miseráveis todos estes anos, sugados por um regime afogado em lençóis de petróleo e diamantes, cujas receitas, durante anos a fio, nem sequer entravam no Orçamento do Estado. Iam directamente para os bolsos da “grande família”, dos generais e da clique que em Luanda os apoiava, sobrando abundantes restos para os que, em Portugal e não só, lhes forneceram o indispensável know how financeiro, bancário, jurídico e organizativo para se transformarem de salteadores de estrada em respeitáveis empresários internacionais com entrada garantida em Davos.(…)» Miguel Sousa Tavares, in Tudo tão irritantemente previsível – Expresso 25jan2020.
  • «Chega a ser constrangedor ver exatamente as mesmas pessoas que vociferam contra Rui Pinto agora baterem palmas à divulgação de informações que terão uma proveniência muito similar. (…) as informações conhecidas por Luanda Leaks estão a servir para que, pelo menos em Portugal, os tribunais e os organismos reguladores estejam a investigar, situações, digamos assim, aparentemente anómalas. Já Rui Pinto está preso e os únicos processos que estão a ser instruídos e os atos pelos quais foi acusado são os que dizem respeito aos crimes que ele cometeu. Iguais aos que, com certeza, cometeram os hackers do Luanda Leaks. Aliás, não sabemos se Rui Pinto está envolvido ou não na recolha da informação que o consórcio de jornalistas está a divulgar. Se estiver, gostava muito de saber qual é o critério dos tribunais para investigar uns e não investigar outros.» Pedro Marques Lopes.
  • Em 2009, um deputado que recusava a venda da GALP a José Eduardo dos Santos e a Américo Amorim. Francisco Louçã, Momento Zen/SIC.
  • A Associated Press retirou Vanessa Nakate (negra) de uma foto tirada com um grupo de ativistas (brancas) em Davos. A «desculpa» não poderia ser mais esfarrapada: «O fotógrafo estava a tentar tirar uma foto rapidamente, num prazo apertado, e fez o recorte por motivos de composição, por considerar que  o prédio ao fundo era perturbador.» Via Visão.
  • Ministério Público constituiu 74 arguidos, 59 dos quais autarcas e ex-autarcas de 47 câmaras do Norte e Centro, no processo da investigação às Lojas Interativas da Turismo do Porto e Norte, realizada no âmbito da Operação Éter. Lusa/Expresso.
  • A Samherji, uma empresa de pescas islandesa, vai retirar-se da Namíbia após ver-se envolvida no Fishrot, um escândalo de suborno de políticos namibianos, como o ex-ministro da Justiça Sacky Shanghala e o ministro das Pescas Bernhard Esau. The Namibian.

sábado, 25 de janeiro de 2020

«O lado negro do negócio dourado do azeite»


O lado negro do negócio dourado do azeite, por Paulo Barriga: 
«O bagaço de azeitona, uma pasta altamente poluente e que necessita de ser processada em fábricas de secagem, está a ser produzido no Alqueva em quantidades nunca antes observadas. (…) Em Fortes, cerca de 80 habitantes sobrevivem cercados por uma pegajosa nuvem de fumo que se transforma em gordura e escorre pelas casas e plantações e que os impede de abrir as janelas e obrigou a tapar as chaminés.» 
Investigação patrocinada por bolsa de investigação jornalística da  Gulbenkian, publicada na Sábado.

Reino Unido: agência obscura patrocina projetos poluentes no estrangeiro

  • Uma investigação da Unearthed, da Greenpeace, em conjunto com o programa Newsnight, da BBC, revela que uma obscura agência governamental britânica, a UK Export Finance, está a ajudar a financiar projetos de combustíveis fósseis no estrangeiro que emitem 69 milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano.  O governo já poderá ter avançado com 6 biliões de libras para esses projetos de poços de petróleo na costa do Brasil e refinarias de petróleo no Bahrein e Omã.
  • Uma fuga de documentos mostra que os planos mineiros da empresa de carvão LEAG para 2016 em Lusatia, Alemanha Oriental, são idênticos ao plano de eliminação gradual do carvão, e outras empresas de lenhite e primeiros-ministros de estados ricos em lenhite acabaram de concordar com o governo alemão. Como resultado, a LEAG receberá € 1,75 biliões para continuar com os negócios como até agora. Beyond Coal.
  • Um tribunal de Oslo apoia a exploração de petróleo no Ártico. A Greenpeace diz que vai recorrer ao Supremo Tribunal, argumentando que a exploração de petróleo viola as garantias constitucionais da Noruega de um ambiente saudável. CCN.
  • A crise climática está a agudizar os fenómenos de erosão na Nigéria, destruindo prédios, estradas e terrenos agrícolas, podendo os prejuízos atingir 100 milhões de dólares por ano, reporta Linus Unah na Climate Change News.
  • A Agência de Proteção do Ambiente facilita a descarga de esgotos não tratados para os rios, titula o NYTimes.
  • Contrariando as anteriores sanções impostas, a administração Trump prolongou por mais três meses as licenças de cinco petrolíferas (Chevron, Schlumberger, Halliburton, Baker Hughes and Weatherford ) para operarem na Venezuela. Energy Voice.
  • O primeiro passo para uma área se tornar inabitável será as seguradoras deixarem de cobrir os riscos e prejuízos de casas em áreas propensas a incêndios, escreve Matthew Burgess na Time.  Mais: os incêndios florestais da Austrália podem criar os primeiros refugiados climáticos do país.

Bico calado

  • «(…) O pobre, meus amigos, não inveja quem tem 50 milhões de euros ou dois mil milhões de euros, abstrações inconcebíveis para a sua cabeça remediada, mas o vizinho que tem mais 50 euros do que ele. É essa quantia irrisória que o atormenta — e não os 300 mil euros que Isabel dos Santos pagou para remodelar um apartamento de quatro milhões. Por isso vê-se mais indignação por causa de um bilhete de autocarro do que pelos milhões que terão sido desviados por Isabel dos Santos. Como todos os coletivos, o “martirizado povo angolano”, a vítima de que a nossa indignação necessita para condenar com alguma veemência “a princesa”, é outra abstração. Um povo inteiro não tem rosto. Eis a razão pela qual a indignação contra os corruptos nasce de um esforço racional, de civismo forçado, enquanto a indignação contra o ladrão de galinhas vem das vísceras, de um sentimento urgente, epidérmico, de injustiça. Apartamentos de 50 milhões de euros no Mónaco são uma ficção, uma galinha roubada é real. O “povo angolano” é uma ficção, o proprietário da galinha é real. Isabel dos Santos, que diz ter começado a vender ovos nas ruas de Luanda, deve saber uma ou duas coisas sobre galinhas, ovos e abstrações, sobre os pequenos delitos que nos agravam e os crimes que toleramos mesmo que estejam na origem de fortunas faraónicas. Só quem sabe sorri daquela maneira.» Bruno Vieira Amaral, in O sorriso de Isabel dos Santos – Expresso.
  • A construtora Soares da Costa e dois ex-altos responsáveis de topo da empresa estão entre os sete arguidos que o Ministério Público acaba de acusar de fraude na obtenção de subsídio e branqueamento de capitais, no âmbito de um projeto sobre a construção de um hotel de cinco estrelas na Praia da Tocha, concelho de Cantanhede, que começou em 2000, mas nunca chegou a ser concluída. JN/Executive Digest.
  • A polícia tributária italiana revistou os escritórios de Milão de três gerentes da Eni no âmbito de uma investigação sobre suspeita de obstrução da justiça por funcionários do grupo de petróleo italiano. O processo de corrupção está centrado na compra, em 2011, de um campo petrolífero nigeriano pela Eni e pela Shell. Reuters.
  • O parlamento belga rejeitou uma resolução pedindo a remoção das armas nucleares dos EUA estacionadas no país e a adesão ao Tratado da ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares. 66 deputados votaram a favor da resolução, enquanto 74 a rejeitaram. Os partidários incluíram os socialistas, os verdes, os centristas (cdH), o partido dos trabalhadores (PVDA) e o partido francófono DéFI. Os 74 que votaram contra incluíram o partido nacionalista flamengo N-VA, os democratas-cristãos flamengos (CD&V), o extremo-direito Vlaams Belang e os liberais flamengo e francófono. EurActiv.
  • Aviso de Carlos Silva: «Não me vou embora sem dar um murro na mesa!» titula o Público. Comentário de Cid Simões: «Ortopedistas e «carpinteiros estão em alerta rosa-laranja, não sabem se o boss da UGT vai partir a mesa ou estilhaçar o pulso. Tão acarinhado que tem sido e cordato que sempre foi, apadrinhado pelo patronato, sempre compreensivo com os exploradores e à murraça aos trabalhadores, quer magoar a mão que assinou tudo o que lhe exigiram. Não acredito, certamente que se trata de qualquer exigência para receber um tacho como o que foi dado ao seu antecessor.» 
  • O The Guardian publica um artigo de Tony Blair sugerindo que o Reino Unido deve expandir a sua influência em África. Tudo patrocinado por Bill Gates. Não acredita? Carrege em «about this content», à esquerda, por cima de Toby Blair. 
  • Os Democratas, apesar das tentativas de impeachment de Trump, têm apoiado consistentemente a política de "defesa" do presidente e a destruição do que resta das redes de segurança social da América, escreve Roger D. Harris na Mint Press.
  • «Tenho amigos académicos que passam o tempo a reclamar que os jornalistas quando reproduzem o seu discurso simplificam-no de forma tão grosseira que nada de substancial fica. Do lado dos jornalistas oiço que os académicos não sabem expor complexidade com inteligibilidade.» Vitor Belanciano – Público 19 janeiro 2020.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

EUA: água de Miami, Filadélfia e New Orleans com muito mais PFAS do que o calculado

  • Manifestantes reforçaram as casas de árvores improvisadas numa floresta em Colne Valley, nos arredores de Londres, antecipando uma nova tentativa dos empreiteiros de abater milhares de árvores para dar lugar ao projeto ferroviário de alta velocidade HS2. Reuters.
  • A contaminação da água potável dos EUA com produtos químicos artificiais é muito pior do que o estimado anteriormente, com alguns dos níveis mais altos encontrados em Miami, Filadélfia e New Orleans, admite um relatório do Environmental Working Group. Esses produtos químicos, resistentes à degradação no ambiente, são conhecidos como substâncias perfluoroalquil, ou PFAS. Alguns têm sido associados a cancro, danos do fígado, baixo peso ao nascer e outros problemas de saúde que poderão ter afetado 110 milhões de norte-americanos. The Guardian.
  • Um juiz peruano decidiu que o governo deve excluir uma região indígena da Amazónia, próxima da fronteira com o Brasil, de qualquer exploração de petróleo. Reuters.
  • O supremo tribunal de Bangladesh ordenou o encerramento de 231 fábricas de roupa que contribuíram para que o rio Buriganga, em Dhaka, se tornasse um dos mais poluídos do mundo. AFP.

Mão pesada

A produtora de petróleo e gás KP Kauffman Company Inc., com sede em Denver, concordou em pagar US $ 1 milhão e investir US $ 2,5 milhões para melhorar o controlo da poluição em 67 instalações do Colorado. AP.

Reflexão – O que é pior: corrupção ou poluição plástica?


Mussulo, Luanda-Angola: primeiras chuvas arrastam lixo plástico para esta zona de referência do turismo angolano, lixo que vem sobretudo das lixeiras a céu aberto e das valas de drenagem transformadas em lixeiras em Luanda. 

A fuga de capitais protagonizada por gente como Isabel Santos não terá contribuído para isto? Trocando por miúdos: se todo esse dinheiro NÃO tivesse sido canalçizado para negociatas no estrangeiro e para paraísos fiscais, provavelmente teria contribuído para evitar este problema uma vez que teria sido devidamente aplicado em Angola.

Bico calado

  • «(…) Os administradores da NOS envolvidos na investigação, entre os quais o advogado de Isabel dos Santos, vão ser ouvidos pelas comissões de ética e “governance” na próxima semana. Mas a comissão de ética da NOS é presidida por António Lobo Xavier, que é conselheiro de Estado, a convite do Presidente, defende os interesses da Mota Engil, em Portugal e em Angola, de que é administrador. É advogado na Morais Leitão, escritório de advogados que defende Manuel Vicente, no processo Fizz ou José Penedos, no Face Oculta. É também vice-Presidente do BPI, onde defende os interesses espanhóis do CaixaBank. Fala semanalmente na “Circulatura do Quadrado", onde contracena com Jorge Coelho, também da Mota-Engil. A sua posição de comentador e de conselheiro é um lugar privilegiado para defender os interesses dos clientes da sua sociedade advogados, da Mota, de angolanos corruptos ou de banqueiros espanhóis. Como é Lobo Xavier presidente da Comissão de Ética? Como ele bem diz - e sabe! -“existem redes mafiosas de tráfico de influência” na política. Um artista dos negócios e da política.(…)» Paulo de Morais.
  • O Índice de Perceção de Corrupção relativo a 2019 revela que a maior parte dos países analisados pouco ou nada melharam no combate à corrupção. Mais do que dois terços dos países pontuam abaixo de 50, sendo a média de apenas 43.
  • «A integridade em casa nem sempre se traduz em integridade no exterior, e vários escândalos em 2019 demonstraram que a corrupção transnacional é frequentemente facilitada, possibilitada e perpetuada por países nórdicos aparentemente limpos. Em novembro, a investigação da Fishrot Files revelou que Samherji, um dos maiores conglomerados de pesca da Islândia, terá subornado funcionários do governo na Namíbia e de Angola por direitos a cotas de pesca em massa. A empresa estabeleceu empresas de fachada em paraísos fiscais como os Emirados Árabes Unidos, Ilhas Maurícias, Chipre e Ilhas Marshall, algumas das quais supostamente foram usadas para lavar o produto de negócios corruptos. Muitos dos fundos parecem ter sido transferidos através de um banco estatal norueguês, DNB, como parte desse esquema. A gigante sueca das telecomunicações, Ericsson, concordou em pagar mais de US $ 1 bilião para resolver um caso de suborno estrangeiro durante a sua campanha de 16 anos em dinheiro por contratos na China, Djibuti, Kuwait, Indonésia e Vietname. No Canadá, um ex-executivo da construtora SNC-Lavalin foi condenado por subornos que a empresa pagou na Líbia. Após o escândalo de lavagem de dinheiro no Danske Bank, o maior banco da Dinamarca, grandes bancos como o Swedbank na Suécia e o Deutsche Bank na Alemanha, terão sido investigados em 2019 pelo seu papel no tratamento de pagamentos suspeitos de clientes de alto risco não residentes, principalmente da Rússia, através da Estónia. Na Suíça, as autoridades estão a investigar vários escândalos internacionais de lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo empresas e organizações com sede na Suíça, especialmente nos setores financeiro e de commodities e desportes internacionais. O comerciante de commodities baseado em Genebra Gunvor foi condenado a pagar um valor recorde de 94 milhões de francos suíços por subornos de funcionários e agentes seus a funcionários públicos no Congo e Costa do Marfim. Transparency International.
  • «Espanta-me que a principal preocupação do Ministério Público seja castigar Rui Pinto e não investigar o que ele revelou». João Cravinho à RR.
  • «(…) O homem meteu as mãos, ou melhor, o computador e o software, no mundo do futebol. (...) no mundo do futebol de milhões, de muitos milhões, em que circula a elite dos clubes, dos negócios, dos fundos de investimento, da advocacia, das agências de publicidade, da banca, dos agentes e intermediários detentores de passes de jogadores, etc. Um mundo em que os crimes de lavagem de dinheiro e as fugas ao fisco, várias manipulações fiscais no limite da legalidade, violações dos próprios códigos de ética das associações de futebol, publicidade disfarçada, acordos de silenciamento, entendimentos secretos para manipular os mercados de jogadores, a utilização generalizada de offshores, a publicitação de valores falsos de transacções de jogadores, são o habitual. Nem tudo são crimes, mas tudo são procedimentos proibidos pelas próprias regras de ética que os clubes aceitaram, incluindo a falta de transparência e a manipulação da opinião pública por jornalistas e comentadores que actuam por conta dos clubes. Foi isso que revelaram e continuam a revelar os chamados “Football Leaks”, com a colaboração dos jornalistas de investigação da imprensa europeia de referência, com a hostilidade e a censura mesmo de muitas autoridades nacionais, que aceitam com facilidade suspeita calar estas denúncias. (…) O que não percebo, ou melhor percebo demasiado bem, é a desproporção de tratamento, a sanha persecutória contra um criminoso cujas vítimas foram outros criminosos, ou gente gananciosa na zona cinzenta da lei, que nunca andariam de algemas, os grandes clubes como o Mónaco, o Real Madrid, o Tottenham, o Manchester City, o Paris Saint Germain, o Sporting, várias federações nacionais de futebol, incluindo a portuguesa, a FIFA e pessoas como Ronaldo, Neymar, Mourinho, e só cito os nomes mais sonantes porque não sei muito de futebol. A sanha contra Rui Pinto não passa apenas pela justa condenação pelos seus crimes – revela uma enorme duplicidade, a mesma duplicidade que explica a complacência popular face às malfeitorias do futebol e que explica por que razão um jogador pode fugir ao fisco com milhões e, se for do nosso clube ou uma emanação da pátria, ninguém quer saber. Na verdade, ninguém queria nem quer saber das revelações dos “Football Leaks”, recebidas com um encolher de ombros, mas atira-se com violência face ao delator, em particular se a denúncia for do “nosso” clube. (…)» José Pacheco Pereira, in Se se metem com o futebol, levam! - Público 18jan21020.