quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Bico calado

  • «Em 2011 saíram de Portugal 100.978 pessoas. Em 2012 saíram 121.418. em 2013 foram 128.108. E em 2014 mais 134.624. de 2015 ainda não há dados finais mas tudo indica que aquele valor não se alterou significativamente. Ou seja, como resultado do processo de ajustamento, Portugal terá perdido mais de meio milhão de pessoas em idade ativa entre 2011 e 2015. E isso é um enorme problema para o futuro da economia portuguesa e para o país.(…) Com mais de cinco milhões de pessoas de origem portuguesa espalhadas pelo mundo, Portugal apresenta atualmente a taxa de população emigrada mais elevada da União Europeia (UE28) e é o sexto país em número de emigrantes. Ou seja, metade da população portuguesa vive no estrangeiro. E 10% desses cinco milhões deixaram o país nos últimos cinco anos.» Nicolau Santos in Como a emigração está a tramar o PIB - Expresso Diário 10fev2016.
  • «(…) Aquilo que vivemos foi uma primeira investida em regra da direita contra o governo do PS e contra a estratégia acordada por este com as restantes forças de esquerda. Uma primeira investida em regra contra uma política alternativa à austeridade e que teve como actores não apenas a direita nacional mas toda a direita europeia, com mobilização sincronizada pelo Partido Popular Europeu. Isso pode aceitar-se como normal. O que não é normal é que uma estratégia partidária deste tipo, - onde para a direita portuguesa contava mais obter uma derrota do governo português (pelo simples facto de ser do PS) do que a defesa dos interesses nacionais - tivesse tido uma tão entusiástica e sectária cobertura da imprensa em geral e dos jornalistas em particular. (…) Para desgraça de todos nós, o jornalismo é caro e o bom jornalismo mais caro ainda (porque exige profissionais de qualidade, equipas multidisciplinares com meios e tempo) e, por isso, a informação tem vindo a ser substituída com prejuízo por espaços com opinadores. O problema é que, não só a cobertura jornalística da política em geral é de um enorme sectarismo (muitos jornalistas são de direita e fazem propaganda das suas preferências políticas ou são maus e limitam-se a repetir o discurso hegemónico do poder, de direita) como os espaços de opinião estão invadidos por comentadores de direita ou do “centro” - alguns apresentados sob uma roupagem técnica como “economistas”, “politólogos” ou mesmo “jornalistas” - e estão praticamente desprovidos de uma visão alternativa. Qualquer jornalista sabe isto e sabe que isto é desonesto. O resultado é um brutal enviesamento da informação e da opinião oferecida aos cidadãos, que não podem deixar de aderir às teses que lhe são marteladas de manhã à noite, em particular pelas televisões, por falsas que sejam (como a tese do aumento da carga fiscal ou do ataque à classe média). E é por isso que todos conhecemos as mil coisas que podem correr mal na execução orçamental e que se fala tanto disso. A direita radical quer que este orçamento corra mal, que o governo caia e que o pais entre em bancarrota. Não está a olhar a meios para o conseguir. E o meio principal é esta lavagem ao cérebro que espera que se torne uma profecia auto-realizadora.» José Vítor Malheiros in Quando os jornalistas são o centro do problema - Público 9fev2016.
  • «Passos Coelho apareceu neste Carnaval com uma T- Shirt a garantir: Je suis social democrate! Eu cá vou levar uma a garantir que sou neto do Soldado Desconhecido, embora nenhum dos meus avós tenha ido à Grande Guerra. A turma dos Pinóquios e Arlequins que passam o ano inteiro a foliar e a fantasiar sobre economia nas TVs vai mascarada de vendedores de Calcitrin, que alivia a dívida e dá força ao défice. O cortejo do descaramento está na rua. A vergonha morreu atropelada pelos painéis e mesas quadradas dos estúdios de televisão e entrevistas à porta de asilos para velhinhos e feiras de agricultura. Pedro Passos Coelho mergulhou nas águas desagradáveis da oposição e saiu baptizado em social-democrata! (…) Os paineleiros neoliberais que enxameiam as sessões de lavagem ao cérebro das TVs não deram nem um ai nem um traque ao anúncio desta revelação de Pedro Passos Coelho. A questão não é a hipocrisia, nem a falta de princípios, nem mesmo a prostituição que tal silêncio revela entre a neoliberalagem, entre a libertinagem dos pregoeiros dos mercados. Com essas “virtudes” do quer fatura podem eles bem. São pagos sem NIB por elas. A questão é o que esse silêncio revela de ignorância elementar sobre o assunto a que são chamados a atestar. Sobre o básico do que é a social democracia.(…) Mas parece ser abaixo dos mínimos que neófitos da social democracia de Massamá ignorem, entre vários exemplos, os conceitos de “Bens Públicos” ou “Bens Coletivos” de um clássico da economia como Samuelson. Pro bono: ´”bens públicos” são indivisíveis e fornecidos a todos. É o caso de vias públicas, o ensino, a saúde, a segurança social. Onde estão os bens públicos do neo social democrata Passos Coelho? É típico da social democracia existirem empresas estatais nas áreas do crédito, da produção de energia, nos transportes e comunicações. Também é típico da social democracia preocupar-se com a distribuição da riqueza em vez de centrar a atenção na receita (taxas e impostos), como fazem os liberais. Isto depois do governo de Passos Coelho ter privatizado até as pontes de entrada na capital e do colossal aumento de impostos do doutor Gaspar! A social democracia de Passos Coelho é contra o típico da social democracia. É mais ou menos como uma típica feira do fumeiro com hambúrgueres! (…) Os sociais democratas de Passos Coelho deviam ir à catequese para aprenderem que o Estado social democrata e de bem se levantou entre as duas guerras do século passado contra dois ciclos económicos, para passar a ter uma palavra na regulação das crises. A intenção era manter o pleno emprego, ou perto disso, em vez de o promover e desregular, como fez Passos Coelho… Nos anos 30 do século passado os social-democratas suecos descobriram que o desemprego podia ser reduzido e a economia estimulada se o Estado seguisse políticas anticíclicas, Que a sociedade não podia ficar impotente perante os caprichos do mercado capitalista, que a economia podia ser controlada, e o bem estar dos cidadãos podia ser melhorado através do papel ativo do Estado. Esta foi a descoberta dos social-democratas. Passos Coelho e os seus seguidores fizeram exactamente o contrário durante os seus quatro anos de desgoverno. Agora são social democratas! Sempre! No próximo Verã estarão a prometer gelados aos miúdos que vão à praia.(…)» Carlos de Matos Gomes in Je suis social democrateA Viagem dos Argonautas.

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