segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Reflexão

Imagem de IvanSolyaev.

A Idade da Solidão está a matar-nos,
por George Monbiot, in The Guardian, 14out2014

1 Thomas Hobbes estava errado ao defender que, antes de haver autoridade para controlar o homem, este estava envolvido numa guerra do homem contra o homem. Os homens são animais gregários e não conseguiriam sobreviver sem se apoiar mutuamente. 
2 A solidão tornou-se epidémica não só nos jovens adultos mas também nos idosos, alerta um estudo da Independent Age.
3 As fábricas fecharam, as pessoas viajam de carro em vez de autocarro e usam o YouTube em vez de iemr ao cinema. Mas estas alterações não conseguem explicar a velocidade do nosso colapso social. Estas mudanças estruturais foram acompanhadas de uma ideologia que nega a vida, o que reforça e celebra nosso isolamento social. A guerra do homem contra o homem - competição e individualismo, por outras palavras - é a religião do nosso tempo, justificada por uma mitologia de rangers solitários, empresários em nome individual, empreendedores, self-made men, solitário. O que importa é ganhar. O resto é um dano colateral.
4 Os jovens britânicos já não querem ser maquinistas ou enfermeiros. Mais de um quinto dizem que só querem ser ricos; aliás, riqueza e fama sáo as únicas ambições de 40% dos questionados. Até mesmo a nossa linguagem reflete isso: maior insulto atual é “perdedor”.
5 Um dos resultados trágicos da solidão é que as pessoas viram-se para seus televisores em busca de consolo: dois quintos dos idosos dizem que a televisão é sua principal companhia. 
6 Mas afinal o que ganhamos com esta guerra do homem contra o homem? A concorrência gera crescimento, mas o crescimento já não nos faz mais ricos. Números publicados esta semana mostram que, enquanto o rendimento dos diretores de empresa aumentou mais de um quinto, os salários para a força de trabalho como um todo caíram em termos reais em relação ao ano passado. Os patrões ganha 120 vezes mais do que o trabalhador médio em tempo inteiro. (Em 2000, foi 47 vezes). E mesmo se a concorrência nos tornasse mais ricos, não nos faria mais felizes, uma vez que a satisfação derivada de um aumento do rendimento seria prejudicada pelos impactos da concorrência.
7 1% detém 48% da riqueza mundial, mas mesmo eles não estão felizes. Uma pesquisa realizada pelo Boston College de pessoas com um património líquido médio de 78 milhões de dólares revelou que eles também foram assaltados por ansiedade, insatisfação e solidão. Muitos deles dizem sentir-se financeiramente inseguros. 
8 Para tudo isto, destruímos o mundo natural, degradámos as nossas condições de vida, hipotecamos as nossas liberdades e expetativas de satisfação a um hedonismo compulsivo, amorfo e sem alegria que, depois de tudo consumirmos, começamos a canibalizar-nos.

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